Resumo

Objetivou-se analisar o Regulamento Geral de Educação Física - Regulamento nº 7 (RGEF R7) na busca de indícios que sustentem a afirmação de que ele foi elaborado com a finalidade de treinar o soldado para guerra. Utilizou-se análise de conteúdo para codificarmos os dados, comparando-os com outros manuais militares. O RGEF-R7 foi a tradução do Método Francês de ginástica, realizada por membros do Centro Militar de Educação Física, sob supervisão da Missão Militar Francesa, entre os anos de 1928 e 1934. Foi introduzido no Brasil pela Missão Militar Francesa, contratada para “modernizar” o Exército nacional. Em comparação ao original francês, o RGEF-R7 não pode ser tratado como “tradução integral”, expressão tão disseminada no campo, pois há algumas diferenças nos conteúdos, algumas sutis, e outras evidentes, como a planta baixa de modelo de ginásio adotado. Identificou-se uma sistematização de conteúdos utilitários, dispostos basicamente em sete famílias: marchar, trepar, saltar, levantar e transportar, correr, lançar, atacar e defender, e mesmo não sendo hegemônicos no RGEF-R7, há alguns elementos semelhantes aos conteúdos do treinamento militar, como transporte de feridos, técnicas de progressão em combate, transporte de sacos de areia, vigas, troncos de árvore, transposição de muros, palanques e cercas, bem como jogos lúdicos com temáticas militarizadas, como fuzilamento e lançamento de granadas, além de exercícios de ordem e evoluções militares. Identificou-se uma relação entre o Método Francês e o Anteprojeto de Educação Física Nacional, na tentativa de expandir o Método Francês para todo o país, e tensões entre a Associação Brasileira de Educação e este Anteprojeto. O RGEF R7 constituiu-se como um manual didático do professor, destinado principalmente ao ensino de alunos de quatro a 18 anos, e foi utilizado na formação docente. Apesar de algumas semelhanças com o treinamento militar, no Brasil o seu ensino não teve traços de militarização, adotando um caráter de intervenção política e social no contexto do projeto varguista de desenvolvimento nacional nas décadas de 1930 e 1940. Nestas duas décadas, por motivos da aproximação entre a instituição militar e o poder central, o Método Francês foi prescrito oficialmente para o ensino escolar, mas não foi hegemônico, concorrendo com outros métodos, principalmente com o fenômeno dos esportes. Foi proposto para intervenção pedagógica e política na busca de um modelo almejado de cidadão, forte, resistente, saudável, disciplinado e obediente.

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