Resumo

Este estudo buscou discutir os princípios e finalidades que regem os conceitos de “ser forte” e “ser útil” no Método Natural de Georges Hébert. Para tanto, essa pesquisa trata de um estudo histórico de cunho bibliográfico, que se apoia, principalmente, no livro Guide Pratique d’Éducation Physique de Hébert (1916) e nos estudos publicados no Brasil e França que tratam ou referenciam esse autor. Ao compor os escritos sobre o Método Natural de Educação Física Francês, Georges Hébert deixa claro a sua preocupação em fazer seres fortes, em desenvolver o homem de uma maneira completa e preservar somente aquilo que é realmente útil (HÉBERT, 1916). Ao olharmos para o contexto europeu e brasileiro da Educação Física no início do século XX, apresentado por autores como José Luiz dos Anjos (1995), Lino Castellani Filho (1991) e Carmen Lúcia Soares (1994), é explicito que a finalidade de se fazer homens e mulheres fortes e úteis nesse contexto buscaram, em síntese, atender aos interesses da classe dominante, a qual administrava o corpo (da classe dominada) como um instrumento de produção. Contudo, após nos aproximarmos das apropriações culturais, históricas, sociais e educacionais que influenciaram Hébert, passamos a entender que os conceitos de “ser forte” e “ser útil” nesse autor possui especificidades pouco representadas pelas concepções e interesses predominantes do período. Neste estudo, pudemos concluir que Hébert, na construção do Método, opera uma educação do corpo marcada pelas filosofias humanista e naturista, as quais empregam aos conceitos analisados uma lógica contrassensual às finalidades hegemônicas conservadoristas da época. O forte para Hébert (1916, p.30) “[...] não é o especialista que executa somente um gênero de exercício ou aquele sujeito extraordinário que surpreende com certas proezas acrobáticas[...]”, mas aquele que desenvolve suas qualidades físicas e viris de maneira completa e útil a fim de servir ao bem comum. Por fim, a discussão estabelecida com esses conceitos ainda é uma questão a ser melhor investigada e nos deixa uma certa reflexão sobre os cuidados de se olhar o passado sob uma ótica unilateral.