Resumo
~~Busca-se identificar entre os diversos autores maranhenses aqueles que se tornaram ‘sportman’ ou que escreveram sobre atividades esportivas e/ou de lazer praticadas em São Luís do Maranhão, resgatando-se a memória dessas atividades.
Palavras-chave: Esportes e Lazer; memória; São Luis-Maranhão
Integra
~~INTRODUÇÃO
A literatura ajuda-nos a compreender melhor o mundo que nos cerca, quando descreve a sociedade em que a história se passa. Pode ser usada como fonte de pesquisa, ao se identificar, na narrativa, as manifestações de caráter esportivo, recreativo e de lazer.
O esporte, como tema literário, aparece pela primeira vez com Píndaro, embriagado pelos feitos atléticos dos campeões olímpicos:
"Durante a realização dos Jogos, desaguavam em Olímpia tudo o que na Grécia havia de artístico, filosófico e desportivo. Os poetas escancaravam o que lhes medrava na alma, os sofistas dialogavam com auditórios eruditos e os atletas competiam entre sí. Enfim, arte, filosofia e desporto num conúbio que muito enriqueceu a literatura grega. Já Homero poetizara as corridas de carros, mas literatura centrada no desporto... foi Píndaro o primeiro" (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d: 9) .
Depois dele, muitos outros. "E no gaiato tagarelar das ruas de Atenas, o desporto nascia como verdadeiro fenômeno cultural". Virgílio, Horácio, Tíbulo, Propércio, em Roma; Dante e Petrarca, na Idade Média; Rebelais, Cervantes, Camões, Francisco de Quevedo, Jeronimo Mercurialis, Rousseau, na Idade Moderna. VIEIRA E CUNHA & FEIO (s.d.) justificam a feitura de uma antologia portuguesa de textos esportivos afirmando que o desporto, ao contrário do senso-comum que se tem dessa manifestação, não se resume a "uma atividade meramente corporal que, no setor da ciência, se confunde com a Medicina, no campo da convivência, com a expresso apaixonada da agressividade natural e manifestando o mais redondo desconhecimento pelo mundo da cultura" (p. 7). Afirmam ser o desporto uma pujante afirmação de cultura; uma síntese original de criação artística e de contemplação estética; um meio de educação e de comunicação de excepcional valia; e um "fenômeno social capaz de concorrer à Paz, à Saúde, à Tolerância, à Liberdade, à Dignidade Humana" (p. 8):
"Ainda integrado na luta pela compreensão do desporto, permitimo-nos recordar que a Cultura Física é uma Ciência do Homem e como tal deve ser analisada, estudada, praticada, difundida e... defendida! Daí que, ao nível da interdisciplinaridade com outros ramos do saber, não seja demasiado encarecer quanto à educação física e os desportos dialecticamente se relacionam, quer com as outras Ciências do Homem, quer com as Ciências da Natureza e as Ciências Lógico-Dedutivas..." (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d.: 8) .
Também na Literatura Brasileira é significativa a presença de escritores a evidenciarem uma simpatia pela prática desportiva. O objetivo deste estudo é o de, articulando-se o trabalho de investigação e o trabalho de resgate, recuperar e organizar fontes literárias e documentais, procurando reagrupá-las, tornando-as pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural (FAVERO, 1994) .
Buscaram-se em autores maranhenses trechos em que se referem à cultura corporal no Maranhão, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país.
O REMO E AS REGATAS NO MARANHÃO
O remo foi implantado no ano de 1900, pelos "sportsmen" maranhenses utilizando-se dos rios Anil e Bacanga. É desse ano a criação do "Clube de Regatas Maranhense", instalado na Rua do Sol, 36:
"CLUB DE REGATAS MARANHENSE
- Director Presidente - Manoel G. Moreira Nina; Vice Director Presidente - Jorge Brown; Director Secretário - José Carneiro Freitas; Director Thesoureiro - Benedicto J. Sena Lima Pereira; Director Gerente - Alexandre C. Moreira Nina; Supplentes: 1º - Manoel A. Barros; 2º - Othon Chateau; 3º José F. Moreira de Souza; 4º - Antônio José Silva; 5º - Almir Pinheiro Neves; Commissão d'Estatutos: Dr. Alcides Pereira; Eduardo de A. Mello; Manoel Azevedo; Arthur Barboza Pinto; João Pedro Cruz Ribeiro".
Essa iniciativa foi efêmera. Os primeiros passos foram dados, para colocar as coisas no rumo certo, mas faltaram recursos para aquisição das embarcações. Encontramos, nos anos seguintes, algumas iniciativas de se manter essa prática esportiva, sendo realizados alguns eventos nos anos de 1908 (a 13 de setembro voltou-se a falar na implantação do remo, chegando a ser organizada uma competição, envolvendo duas equipes que guarneciam os escaleres "Pery" e "Continental"); em 1909, nas comemorações do 28 de julho houve outra prova, tomando parte da mesma militares do 24º BC e da Marinha, sendo utilizado barco a dois remos. A elite maranhense fez-se presente tomando parte ativa. Lembramos que em 1907, Nhozinho Santos funda o Fabril Athletic Clube – FAC -, nas dependências da Santa Isabel, implantando várias modalidades esportivas, como o futebol, o atletismo, o tênis, o cricket, o crocket. Outras agremiações surgem, ao lado de algumas já existentes e que iniciam, também, a prática de vários esportes .
De 1910 a 1915, houve uma grande crise do esporte maranhense, com a implantação, o ressurgimento e a extinção de várias equipes, clubes, esportes... Mesmo com esses contratempos, foram promovidas algumas competições, sempre no rio Anil. A partir de 1915 houve um que renascimento dos esportes, graças à iniciativa de Mr. Clissot, cônsul inglês na cidade. O remo e o futebol estavam entre os esportes de preferência da juventude.
Nos anos seguintes, e até o final dos anos 20, promoveram-se alguns festivais, no rio Anil, sempre com receios de ataques de tubarões, que subiam para desfrutar dos dejetos despejados pelo Matadouro Modelo. Em 1916 houve uma competição que tinha como objetivo implantar, definitivamente, o remo, inclusive com a criação de uma "Liga do Remo". (MARTINS, 1989, p. 217). .
ANTÔNIO LOPES
Antônio Lopes da Cunha nasceu na cidade de Viana – Maranhão -, em dia 25 de maio de 1889 e faleceu em São Luís aos 29 de novembro de 1950. Filho do desembargador (e futuro governador do Estado) Manuel Lopes da Cunha e D. Maria de Jesus Sousa Lopes da Cunha.
Fez os preparatórios em São Luís. Em 1911, concluído seu curso de ciências jurídicas, na cidade de Recife. Foi durante os seus estudos em Recife que Antônio Lopes deu os seus passos iniciais na atividade literária, ao lançar Litania da Morte , a primeira obra de sua produção, diversificada em múltiplas facetas, todas de extrema importância. Antes ele já havia fundado, em sua terra, a Revista Vianense, ao lado de Mariano Couto e José Belo Carvalho, “manuscrita, em folhas de papel azul de embrulhar rebuçado”.
Retornando à província natal, exerceu o magistério – era professor de Literatura Brasileira no Liceu Maranhense e de Filosofia do Direito na Faculdade de Direito do Maranhão, marcando sua atuação com uma vasta erudição Jornalista, redigia “A Pacotilha” e “O Imparcial”. Em 1938, fundou com Mauricio Jansen e Urbano Pinheiro o “Diário do Norte”, folha que exerceu grande influencia na mocidade intelectual de São Luís, pois acolhia generosamente aos jovens poetas e escritores.
Antonio Lopes da Cunha introduziu o Escotismo no Maranhão, apenas dez anos depois de surgir na Inglaterra; o Grupo Escoteiro 18tão, antiga Associação Maranhense de Escoteiros foi instituída em 20 de maio de 1917.
Foi um dos fundadores da Faculdade de Direito de São Luís (1918), ao lado de Fran Paxeco, Henrique Couto, Domingos Perdigão e outros.
A elite intelectual maranhense sempre esteve envolvida com as coisas do esporte. Antonio Lopes não poderia ser diferente...
NO ESPORTE CLUBE LUSO-BRASILEIRO
Vamos encontrá-lo em 8 de junho de 1919, sendo aclamado o novo Presidente do Esporte Clube Luso-Brasileiro, quando de sua reestruturação . Fizeram parte da nova diretoria, Edgard Figueira, como Presidente de Honra; o Dr. Tarquínio Lopes Filho, na vice-presidência; José Carneiro Dias Vieira, como Diretor de Esportes.
A nova sede do clube localizava-se no tradicional Largo do Carmo, 16 (numeração antiga). Era dotada de extenso salão nobre belamente ornamentado, sala de jogos, salão de bilhar.
Destacou-se o discurso, de improviso empolgando a todos, do Dr. Antonio Lopes, fazendo uma homenagem ao ex-sócio João Rego, falecido recentemente, deixando enlutado o mundo esportivo maranhense.
O novo Presidente entendeu ser necessário uma melhor organização na formação de novos valores esportivos, especialmente para o futebol, evitando-se a importação de ‘cracks’. Entendia a importância da formação de equipes infantis. Na sua organização foram adotadas algumas providenciam consideradas fundamentais: os sócios-meninos só eram admitidos a partir dos 12 anos completos, com autorização dos pais ou responsáveis.
Designou atletas da equipe principal – Lauro Lima e Napoleão – como instrutores responsáveis pela preparação física e ‘foot-ball’. Fixou em 50 o número desses associados. Os treinamentos davam-se as quintas-feiras, de maneira que a garotada não fosse prejudicada nos estudos, pois naquele dia era ‘feriado’ nas escolas. Não eram admitidos, para sócios, meninos analfabetos. Todo sócio-mirim, que no fim do mês não apresentasse caderneta da escola donde concluísse sua freqüência normal e a maioria das notas boas, estava passível de sua participação nos treinamentos e jogos, sustada e a continuação dessa irregularidade determinaria mesmo a sua eliminação (MARTINS, 1989, p. 470-473).
Foi, também, o fundador e secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão:
“Em 1925, tomei a iniciativa de reunir alguns homens de boa vontade na livraria de Wilson Soares, expondo-lhes a minha idéia de se comemorar o centenário do nascimento de D. Pedro II com a inauguração, nesta capital, de um Instituto de História e Geografia. Os que prestaram apoio à idéia foram: Justo Jansen, Ribeiro do Amaral, José Domingues, Barros e Vasconcelos, Domingos Perdigão, José Pedro Ribeiro, José Abranches de Moura, Arias Cruz, Wilson Soares e José ferreira Gomes. Mais tarde incorporou-se a esse grupo João Braulino de Carvalho. Ausentes de S. Luís apoiaram calorosamente a idéia Raimundo Lopes, Fran Pacheco, Carlota Carvalho e Antonio Dias, que também foram considerados sócios fundadores do Instituto.(p. 110)
“A 20 de novembro realizou-se a sessão inicial, sendo apresentado, discutidos e votados os estatutos e eleita a diretoria, cujo presidente foi Justo Jansen. José Ribeiro do Amaral foi eleito presidente da assembléia geral. (p. 111) .
“A 2 de dezembro, no Salão da Câmara Municipal, inaugurava-se em sessão magna, em homenagem à memória de D. Pedro II, o Instituto de História e Geografia do Maranhão.” (LOPES, 1973, p. 111)
Encontramos, na imprensa local, que em 28 de julho de 1928 promoveu-se uma regata, em homenagem ao comandante Magalhães de Almeida, tendo a frente, dentre outros, o "sportman" Antônio Lopes da Cunha .