Resumo

O objetivo da pesquisa que deu origem a esta tese foi investigar a revista Fluir entre 1983 e 1988. A questão central discutiu o papel da revista como mediadora da experiência do surfe para os seus leitores. O olhar lançado sobre o objeto o analisa a partir da idéia de mídia de nicho, cujos valores e forma de funcionar guardam diferenças nítidas em relação ao jornalismo hegemônico. Por meio dos conceitos de mídia de nicho e subculturas, esta tese busca relativizar as categorias (jornalismo especializado e jornalismo segmentado) normalmente utilizadas para analisar este tipo de objeto como parte do jornalismo tradicional. A abordagem do surfe como uma subcultura midiática permitiu a exploração de sua dimensão cultural, mais precisamente o papel desempenhado pela publicação na construção e divulgação da modalidade e dos valores (de classe social, inclusive) que a permeiam. A tese analisa o papel desempenhado pela revista neste processo de desenvolvimento e na ampliação significativa do mercado em torno do surfe. A metodologia utilizada combina análise de conteúdo de texto e imagem (principalmente fotografias), a qual se debruça tanto sobre os espaços de jornalismo quanto de publicidade. Foram investigadas de forma sistemática todas as edições publicadas entre 1983 e 1988 disponíveis no acervo da Seção de Periódicos da Biblioteca Nacional. De maneira assistemática, foram observados filmes, exemplares de outras publicações sobre surfe e esportes radicais, livros e sítios da internet. O recorte temporal cobre um período em que o surfe sofreu intensas transformações e se consolidou definitivamente como esporte profissional no país. Constatou-se que o crescimento de três elementos – mercado do surfe, surfe como esporte e Fluir – está intimamente articulado: cada processo alimenta e fortalece os demais. Neste sentido, a mídia tem participação notável ao divulgar e dar visibilidade aos agentes envolvidos, construindo representações sobre aspectos como qualidade do surfista brasileiro, papel das empresas, viagens, competições, patrocínio e gênero. Esta atuação se dá no sentido de apresentar o surfe como esporte saudável e positivo, lutando contra uma série de estigmas que se lançam sobre ele e seus praticantes.

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