O Tie Break Como Fator de Dificuldade na Aprendizagem das Habilidades Motoras do Voleibol em Indivíduos Praticantes da Categoria Mirim
Por Guilherme Locks Guimarães (Autor).
Em Motriz v. 6, n 1, 2000. Da página 27 a 30
Integra
produto atraente para as transmissões televisivas, fez com que a Federação Internacional de Volley-ball, órgão máximo deste dsporto, modificasse as regras do mesmo, com o intuito de diminuir o tempo de duração das partidas, motivo pelo qual, as emissoras de televisão não se interessavam em transmiti-lo. Para a consecução deste objetivo os rodízios sem pontos (vantagens) foram eliminados. Assim, cada "rally"1 vale um ponto. O set de 25 pontos sem vantagem ("Tie-Break") diminuiu consideravelmente o tempo de jogo que, nas partidas mais disputadas com o regulamento anterior, era de aproximadamente três horas. Algumas, ainda mais longas. Ao diminuir o tempo de jogo com a nova forma de pontuar, criou-se maior desgaste emocional e maior estresse dos seus praticantes pela ausência da possibilidade de recuperar o erro cometido como era permitido no regulamento anterior. O voleibol no Brasil é dividido nas seguintes categorias: mirim até 13 anos; infantil até 15 anos; infanto-juvenil até 17 anos e juvenil até os 19 anos e adulto daí em diante. Estas modificações foram pensadas para a competição das equipes de alto rendimento e indevidamente estendidas a todas as outras egorias. Na comunidade do voleibol existem pessoas que se dedicam de forma intensa e apaixonada a este desporto, mas que nem sempre possuem conhecimento das diversas disciplinas que intervêm no movimento humano e na ação do desporto. Por esse motivo, essas pessoas têm dificuldades de analisar e refletir sobre os efeitos causados pela modificação da regra e, sobretudo, de modo tão profundo como esta que modificou o sistema de contagem de pontos. Deste modo, as suas decisões seguem uma hierarquia onde a Federação Internacional, órgão máximo, decide as modificações a serem introduzidas em escala mundial para as equipes que fazem voleibol de alto rendimento. Assim, estas regras chegam às equipes mirins de Ramos, bairro do Rio de Janeiro ou de Crato, cidade do estado do Ceará. A introdução deste novo sistema de contagem de pontos traz uma carga de estresse muito intensa, e faz com que a punição do erro-com a perda do ponto-implique em mudanças na execução das habilidades. Em nosso país não é comum um planejamento plurianual de formação de um atleta ou de uma equipe. Portanto, os técnicos, pressionados pelas sociedades na busca da vitória, programarão os seus treinos de modo que os seus jogadores apresentem rendimento na mesma temporada. Para atingir este objetivo o treinador treinará o seu atleta para não arriscar, diminuindo a possibilidade de erro. Portanto, nas fases de aprendizado e aplicação da habilidade como exercício de competição haverá uma modificação do gesto técnico e diminuição da potência. E este movimento apreendido será o modelo da habilidade. Segundo Mechling, citado por Martin (1991), o voleibol é um jogo de habilidades motoras abertas ("open skill") e que são utilizadas de acordo com situações específicas. Por esse motivo, estas habilidades são aprimoradas constantemente. Portanto, para que a regra não seja um fator de dificuldade ao desenvolvimento destas habilidades e sua aplicação no jogo, seria necessário que a categoria mirim tivesse um regulamento próprio onde a competição, na forma de atividade correlata ao desporto voleibol, fosse parte integrante do processo de treinamento e não o seu objetivo ou a sua avaliação.