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Os Estados Unidos não se tornaram a grande potência econômica do século XX por obra do acaso ou da genialidade de seus empreendedores. Tornaram-se potência porque a Europa sangrou até quase morrer em duas guerras devastadoras. Enquanto Londres ardia sob as bombas, e os nazistas batiam às portas da União Soviética, o território norte-americano seguia intocado, longe dos escombros.

De lá, enviaram tropas, sim. Mas enviaram, sobretudo, dinheiro. Quando a fumaça baixou, lá estava o Plano Marshall, emprestando dólares a quem só tinha ruínas. Reconstrução? Claro. Mas com a marca registrada do Tio Sam. Fábricas, hambúrgueres, cigarros, automóveis, Hollywood. O “american way of life” foi desembarcando na Europa como quem não pede licença, só apresenta a conta.

A guerra, perceberam, era um excelente negócio. E transformaram esse negócio em política oficial durante o restante do século XX. Desde então, patrocinar conflitos, fomentar guerras civis, derrubar governos incômodos e instalar ditaduras amigas passou a fazer parte do cardápio. Para garantir o funcionamento dessa máquina, espalharam bases militares como franquias de fast food, sempre à mão, sempre disponíveis.

Mas é bom lembrar que, quando os EUA assumiram a dianteira, o capitalismo já vinha mancando desde o século anterior. O passo seguinte foi o salto das empresas para o mundo. Multinacionais que iam do tabaco às armas, dos automóveis à indústria cultural. Um império feito de lancheiras escolares e mísseis balísticos.

O resultado, no século XXI, é conhecido. Doenças crônicas, como a obesidade e o diabetes, convivem com as ameaças de intervenção militar. O presente do Tio Sam foi essa estranha combinação de calorias em excesso e bombas de precisão.

Hoje, o capitalismo norte-americano parece exaurido. E, para sobreviver, precisa destruir. Não basta explorar, é preciso arrasar cidades, corroer democracias, sufocar países inteiros. O capital vive da desumanização das relações de produção e de trabalho, da política, da própria vida envenenada pelos fast foods e pelo açúcar da coca cola. 

O trágico é que, para continuar existindo, os EUA descobriram um segredo, destruir e destruir para depois reconstruir e, assim, ganhar mais sobrevida para o império. 

Professor Alexandre Machado Rosa