Resumo

Introdução: A baixa capacidade de deambular longas distâncias é uma das principais incapacidades após um Acidente Vascular Encefálico (AVE). O treinamento em esteira vem sendo usualmente utilizado para a reabilitação de marcha nessa população. No entanto, ainda há incertezas quanto às melhores prescrições e à viabilidade de novos métodos de intervenção capazes de melhorar a distância percorrida. Objetivos: Os objetivos desse trabalho foram analisar o efeito das intensidades e as progressões do treinamento em esteira na capacidade de marcha pós-AVE (estudo 1) e verificar a viabilidade do treinamento de marcha para trás em esteira, sem suporte de peso, na capacidade de marcha nessa população (estudo 2). Método: No estudo 1 foi realizada uma revisão sistemática, cujas bases de dados consultadas foram a MEDLINE, CINAHL e PEDro, entre: maio e junho de 2019. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados ou estudos de viabilidade/piloto com indivíduos pós-AVE, que comparassem treinamento em esteira com prescrição baseada em parâmetros cardiorrespiratórios (frequência cardíaca de reserva ou máxima, consumo de oxigênio, percepção subjetiva de esforço) com outras intervenções e treinamento em esteira de alta versus moderada intensidade. A qualidade metodológica dos estudos foi avaliada usando a escala PEDro. Os dados foram extraídos por dois autores independentes guiados pela estratégia PICO (participantes, intervenção, controle e resultados). O número de participantes, as médias e os desvios-padrão do teste de caminhada de seis minutos (TC6M), após a intervenção foram utilizados para o cálculo da diferença média e do intervalo de confiança de 95% (IC 95%). Para análise da progressão do treinamento foi realizada análise descritiva. Para o estudo 2, os participantes foram recrutados e alocados aleatoriamente em um treinamento de caminhada em esteira para trás (grupo experimental) ou em um treinamento em caminhada em esteira para a frente (grupo controle). Ambos os grupos realizam 30 minutos de caminhada na esteira para trás (AT) ou para frente (AF) e mais 10 minutos de caminhada no solo, três vezes por semana, durante seis semanas (18 sessões). A viabilidade foi avaliada pelos dados relacionados ao recrutamento, a intervenção, a segurança e duração do treinamento e para a viabilidade das medidas clínicas foram avaliados o TC6M pré, pós e no seguimento de 90 dias após o término do treinamento. Resultados: Na revisão sistemática, o aumento médio na capacidade de marcha foi de 19,81 metros (IC95%: 7,34 a 32,28; P <0,01; nível de heterogeneidade I² 0%) para a intervenção em esteira, incluindo alta e moderada intensidade, com qualquer outra terapia diferente de esteira. Em comparação com outras intervenções que não a esteira, o ganho médio no TC6M foi 20,70 metros para a intervenção em esteira de alta intensidade e 89,89 metros do treinamento em alta intensidade comparado a moderada intensidade. Os dados de progressão aparecem em dez (89%) dos onze estudos, mas apenas seis são apresentados com detalhes passiveis de replicação. A frequência cardíaca de reserva foi o parâmetro mais utilizado para controlar intensidade do treinamento (nove estudos) e para atingir a intensidade o aumento da velocidade foi mais utilizado na progressão (seis estudos), outros mecanismos, como inclinação e resistência com faixa elástica, foram utilizados para aumentar a frequência cardíaca. No artigo 2 a viabilidade do treinamento foi alcançada em 92% das variáveis analisadas para AT e 83% para AF. A adesão ao treinamento foi de 100% em ambos os grupos. Tanto a tolerância a velocidade planejada (AT=92±8%; AF= 85±26%), quanto a intensidade esperada (AT 85±8%; AF= 81±24%) atingiram o critério esperado. No treinamento AT não houve eventos adversos, e relatos de dor ou fadiga foram dentro do limite estabelecido. Apenas o teste de equilíbrio não foi recomendado para medida de desfecho no futuro ensaio clínico randomizado. Conclusão: O estudo 1 fornece evidências de que o treinamento em esteira de alta intensidade pode melhorar a capacidade da marcha após o AVE em relação a outras intervenções e em relação ao treinamento em esteira de moderada intensidade, no entanto, as evidências ainda são baixas. Em relação a intensidade e progressão estudos futuros devem relatar não apenas a intensidade planejada, mas também a intensidade atingida no final do período de treinamento e indicar claramente quais parâmetros são usados para a progressão do treinamento e a taxa semanal de progressão planejada e alcançada. A partir dos resultados do estudo 2, foi concluído que novas formas de recrutamento devem ser implementadas para o futuro Ensaio Clínico Randomizado e o treinamento em esteira para trás, com as progressões propostas e sem suporte ao peso corporal, foi uma intervenção viável e segura para a reabilitação da capacidade de marcha em pacientes crônicos pós-AVE, com comprometimento moderado da velocidade de caminhada. Assim, a partir dos achados nos estudos anteriores verifica-se a necessidades de novos estudos de intensidade moderada, com parâmetros de prescrições bem delineados para verificar os benefícios na capacidade de marcha nos estudos de treinamento em esteira e o protocolo de treinamento de marcha para trás em esteira sem suporte de peso é uma alternativa viável e segura para essa população.

O trabalho não possui divulgação autorizada
 

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