Resumo

 Será de referir, antes do mais, que os treinadores e os jogadores treinem e se treinem como se joga, ou seja, de modo competitivo, tendo em conta os factores de rendimento (físicos, técnico--tácticos, psicológicos e morais), todos igualmente importantes e incluindo neles o treino invisível. Há, no treino, fatores quantitativos e qualitativos. Saber interpretar a quantidade de ácido láctico; manejar os dados obtidos, através da pulsometria; entender os resultados dos exames médico-desportivos dos atletas - tudo isto (são exemplos, entre outros) permite dar prioridade ao quantificável. Mas, o essencial é invisível aos olhos e, por isso, diEvolução do Conhecimento ficilmente quantificável. Assim, como é possível medir-se a capacidade de comunicação de um treinador, ou a sua liderança? Há dimensões da subjectividade de fundamental importância, na profissão de treinador e no desempenho desportivo. É o homem que se é que triunfa no treinador que se pode ser. Luís Alonso Perez, conhecido por Lula nos meios do futebol: “coube a ele comandar o maior time de futebol de todos os tempos, o Santos Futebol Clube dos anos 50 e 60” (Maurício Noriega, Os 11 Maiores Técnicos do Futebol Brasileiro, Editora Contexto, S. Paulo, 2009, p. 79). Entre 1954 e 1966 treinou uma equipa onde pontificavam Pelé, Coutinho, Pagão e Pepe. E, 4 revistafutebolestudado.comEDIÇÃO ESPECIAL no entanto, Lula nunca jogou futebol profissional, era motorista de táxi e falava uma linguagem com muitos erros gramaticais. Mas, teve um êxito espectacular como treinador dos juvenis do Santos e, daí, passou a treinador da equipa principal. Em 12 anos, conquistou 38 títulos! O que o distinguia dos demais treinadores? Os jogadores deliciavam-se com o que ele dizia e com a simpatia que manifestava por todos. A relação era sujeito-sujeito e não sujeito-objecto. Por fim, sabia ler um jogo, como poucos. Os êxitos (e os inêxitos) do treinador não podem dissociar-se da sua personalidade e da sua conduta. Um treinador informado, mas sem qualidades de liderança e sem um admirável comportamento moral, não é um treinador eficaz. Já digo, há muito, que para saber de futebol é preciso saber mais do que futebol. Fazer- se respeitar, pelas qualidades de liderança e pelo comportamento moral - tudo isto, essencial ao treinador de futebol, é bem mais do que futebol...