Resumo
A crescente tendência a informação e a rapidez com que as mudanças ocorrem redimensionam fronteiras na atual sociedade contemporânea, pós-industrial e globalizada. Países em vias de desenvolvimento como o Brasil não conseguem acompanhar tais mudanças na velocidade imposta pelas regras internacionais, e no âmbito do sistema desportivo não ê diferente: o movimento do desporto de rendimento de portadores de deficiência está em xeque pela tendência de normatização que o equipara ao desporto de alto nível convencional. O desporto de cegos e deficientes visuais não foge à regra: estaria este subjugado a uma perversa lógica do sistema pós-capitalista global de competição ou participaria de novos paradigmas que estão sendo gestados há um longo tempo? Com o objetivo de melhor entender o movimento desportivo de cegos e deficientes visuais brasileiros, esta pesquisa foi centrada na construção de uma interpretação acerca desse universo, analisando, fundamentalmente, as ações e decisões tomadas, atualmente no Brasil, pela Associação Brasileira de Desportos para Cegos. Para tanto, foram feitas observações participantes em campeonatos específicos dessa entidade e coletaram-se depoimentos de atletas, técnicos e dirigentes envolvidos com o chamado desporto de rendimento de cegos. Subjacente à busca estavam as indagações sobre o que esse desporto representa, que resultados tem alcançado, de que maneira tem-se desenvolvido. Concluiu-se que, apesar de relativamente recente, tal fenômeno necessita de uma identidade e padrões de comparação próprios, e que sem um redimensionamento da lógica norte adora das práticas desportivas dessa população e uma reconsideração no modo de tratar tal desporto por parte de seus próprios praticantes, este estará fadado ao desaparecimento, antes mesmo de ter-se firmado no todo social, pela diferença.