Resumo

Com a busca da gênese do uso sociocultural e político do corpo pelo jogo de poder que hoje predomina na Educação Física, pretendi compreender a trama ideológica que possibilita a sua perpetuação nesse contexto. Para isso, realizei pesquisa qualitativa a partir da análise de discurso de vários textos, utilizando como fonte de dados obras de Thomas Hobbes, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. As discussões foram ampliadas com outras obras importantes à compreensão da problemática. Interpretando dialeticamente os dados, busquei analisar contradições que me permitiram articular algumas conclusões. O Leviatã idealizado por Hobbes, indicou-me que o corpo é um sinal direto da propriedade da vida, o bem mais precioso que um indivíduo possui. Esse autor enfatiza não somente o corpo vital, mas também o corpo político, que tem seu poder traduzido em virtudes como força, beleza e conhecimento, dentre outras, tendo em vista concretizar determinados interesses. Com isso, o corpo vem sendo moldado social e culturalmente, de acordo com o jogo de poder predominante em cada contexto histórico, inter-relacionado ao jogo de saber articulado pelo Estado, Igreja, Ciência e outras instituições. Estudos de Platão mostraram-me que, apesar da histórica manobra pela desvalorização do corpo, ele pode ser "útil" para a concretização de objetivos políticos, como acontecia com o uso social e político do corpo-guerreiro na Antiguidade Clássica. Em, Aristóteles encontrei as raízes primeiras da concepção de corpo como algo puramente biológico, salientando como importante para o processo de construção do conhecimento. O pensamento aristotélico também reforçou a dicotomia corpo e alma, teoria e prática e trabalho manual e intelectual, o que vem contribuindo com a desvalorização da Educação Física em nossa sociedade. Retomando estudos platônicos à luz do cristianismo, Santo Agostinho ressalta o corpo como fonte de pecado, causa de todos os males e da decadência humana. Em contrapartida, para Santo Tomás de Aquino o corpo não é visto de forma tão negativa e, juntamente com a alma, forma a unidade do ser humano. Apesar das contradições de seu pensamento cristão, esse autor esboça as primeiras tentativas em defesa da totalidade corpo. Essas análises me permitiram identificar dissimulações do uso do corpo pelo jogo de poder, no cotidiano da Educação Física, através da representação do corpo dócil, do corpo forte e do corpo bonito. Essas dissimulações são sintetizadas, em especial, no esporte moderno, que apresenta muitas semelhanças com o estado de natureza hobbesiano e possui, segundo hobbes, três causas principais: a competição, a desconfiança e a glória. Os dados indicaram-me, ainda, que, em face do uso do corpo pela sua instrumentalização e coisificação, são também articuladas algumas resistências, tais como a busca da totalidade corpo, as concepções mais amplas de Educação Física, de esporte e de lazer, na medida que comprometem-se com ações/reflexões voltadas para a utopia da mudança das regras desse jogo pela vivência lúdica do corpo.

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