Resumo

O ciclismo é uma atividade praticada no mundo inteiro, por esse motivo é amplamente estudada e suas técnicas e características são bem definidas pela literatura. As principais informações utilizadas para a organização técnica desta modalidade são as forças aplicadas no pedal durante o movimento de pedalada, sendo um importante fator no desempenho. Apesar disso, normalmente apenas atletas profissionais ou atletas de alto nível tem uma preocupação com o treinamento destes aspectos. Dentre as diversas formas utilizadas para o treinamento destaca-se a utilização de feedback aumentado do movimento realizado. Desta forma, o objetivo deste estudo é avaliar o efeito de dois modelos de treinamento de ciclismo (com feedback visual aumentado e com feedback verbal) sobre os parâmetros técnicos da pedalada (força efetiva positiva e negativa e atividade muscular) durante um teste incremental máximo e com intensidade constante. Para atingir tal objetivo foram recrutados 30 voluntários, sem experiência prévia com a prática de ciclismo, divididos em três grupos: grupo feedback visual aumentado (FA) 10 voluntários que receberam feedback visual aumentado; grupo feedback verbal (FV) 10 voluntários que receberam um feedback com a indicação verbal da direção em que devem realizar a aplicação de força no pedal; e o grupo controle (GC) 10 voluntários realizaram o treinamento sem nenhum tipo de feedback. O protocolo foi divido em 9 dias, no primeiro e último dia foi realizado um teste incremental máximo, nos outros 7 dias foram realizadas as sessões de treinamento com 30 min de duração para todos os grupos. Ao longo das sessões de treinamento foi verificada a frequência cardíaca (FC) e a percepção subjetiva de esforço geral e local (anterior e posterior da coxa e da perna). Os valores de força efetiva foram divididos por quadrante (1º quadrante: 330° a 30º; 2º quadrante: 30º a 150°; 3º quadrante 150º a 210º; e 4 quadrante: 210º a 330° do ciclo de pedalada) gerando a média, o pico e a posição do pico força efetiva a cada minuto para todos os dias de treino. Os resultados de ativação muscular foram calculados a partir de 20 ciclos completos a cada minuto e representados pela média do valor RMS (root mean square) para todos os músculos nos testes incrementais pré e pós-treinamento e nas sessões de treinamento 1 e 7. Para a análise estatística, os resultados foram divididos em momento com apresentação do feedback e sem apresentação do feedback. ANOVA two-way para medidas repetidas foi utilizada para comparar a força efetiva e o RMS entre os testes incrementais (pré e pós), e ANOVA two-way para comparar a força efetiva e o valor RMS entre o primeiro e último dia de treino. O post hoc de Tukey foi utilizado para identificar a posição das diferenças e uma significância de α= 0,05 foi adotada. Não houve diferenças entre os grupos para massa corporal, estatura, ângulo interno do joelho e potência máxima relativa pré e pós (p<0,05). O grupo FV apresentou maior idade que o GC (p=0,018). Todos os grupos apresentaram redução da força efetiva negativa entre os treinos 1 e 7 no 4º quadrante, mas o grupo FV apresentou valores menores que os demais grupos (FA: p=0,040; FV: p=0,031; e GC: p=0,049). Em todos os grupos houve aumento da força efetiva positiva entre os treinos 1 e 7 nos quadrantes 1 e 3 (p=0,005) e não houve diferenças no 2º quadrante (p=0,065). Quando comparados os resultados de força efetiva entre os testes incrementais pré e pós na intensidade de 50% da potência máxima foi observado aumento da força efetiva positiva nos quadrantes 1 e 3 e redução da força efetiva negativa no 4º quadrante, independentemente do grupo avaliado. Já na intensidade correspondente a 100% da potência máxima, foi observada redução dos valores de força efetiva positiva nos quadrantes 1 e 3 e aumento dos valores de força efetiva negativa no 4º quadrante (p<0,05). A ativação muscular apresentou diferenças apenas para o músculo biceps femoris com menores valores para o grupo FV em relação ao grupo FA na intensidade correspondente a 100% da potência máxima durante o teste incremental póstreinamento (p<0,05). No entanto, não foram observadas diferenças para os demais resultados de atividade muscular entre os grupos e os dias (p<0,05). A FCMAX reduziu entre os treinos 1 e 7 nos grupos FA e FV (p<0,05). Durante os testes incrementais pré e pós, o grupo FV apresentou valores de FCMAX máxima maiores em relação aos demais grupos (p<0,05). A percepção subjetiva de esforço reduziu em todos os grupos em todos os locais corporais avaliados quando comparados o treino 1 e treino 7. Não houve diferenças entre a percepção subjetiva de esforço na intensidade máxima durante os testes incrementais entre os grupos e os dias de testes (p>0,05). A partir dos resultados deste estudo podemos concluir que a prática de ciclismo gera melhora na aplicação de força durante a pedalada, mas que o treinamento com utilização de feedbacks (verbais ou visuais) irá gerar menores perdas para a aplicação de força principalmente no 4º quadrante (ou fase de recuperação da pedalada). Parece haver uma melhor transferência da aprendizagem da aplicação de força em intensidades submáximas do que em intensidades máximas após sete sessões de treinamento.

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