Resumo

Estudos mostraram que obesidade geral em adolescentes aumentou nas últimas décadas. Entretanto, não se sabe se prevalência de obesidade abdominal também tem aumentado ao longo dos anos. Essa pesquisa teve como objetivos a) Sintetizar os conhecimentos disponíveis de estudos empíricos sobre a tendência secular da obesidade abdominal em adolescentes, por meio de uma revisão sistemática da literatura; e b) Verificar a tendência secular de 10 anos na obesidade abdominal e a sua associação com a aptidão física relacionada à saúde e nível de atividade física em adolescentes de uma capital brasileira. Para a revisão sistemática, realizou-se buscas nas bases Pubmed, Web of Science, Scopus, SciELO e BVSalud, sem data pré-esbelecida, publicados até março de 2020. Foram incluídos artigos que avaliaram a obesidade abdominal, independente do instrumento/protocolo utilizado (indicadores antropométricos ou métodos de avaliação por imagem); artigos conduzidos em adolescentes de ambos os sexos (10 a 19 anos); artigos conduzidos com amostras representativas (baseados em cálculo amostral); artigos em que foram realizadas pelo menos duas coletas em diferentes períodos temporais com a mesma população alvo; artigos que apresentaram a prevalência de obesidade abdominal nos diferentes períodos do estudo; artigos publicados em inglês, espanhol e português; e artigos publicados em versão completa. Não foram incluídos estudos longitudinais; estudos de intervenção; estudos que não especificaram a faixa etária da amostra; e estudos que utilizaram instrumentos distintos para mensurar a obesidade abdominal entre os períodos investigado no estudo. O estudo empírico caracterizou-se como uma análise de tendência secular, em que foi realizado um inquérito em 2007 com adolescentes de 14 a 19 anos das escolas da rede pública de Florianópolis, e após 10 anos o mesmo inquérito foi replicado com a mesma população alvo. A amostra do estudo foi composta por 1693 adolescentes (2007: 685; 2017/18: 1008). A variável dependente foi a obesidade abdominal, determinada pelo perímetro de cintura e categorizada de acordo com os pontos de corte específicos para idade e sexo. Como variáveis independentes foram consideradas a aptidão cardiorrespiratória, resistência abdominal e o nível de atividade física. A idade e maturação sexual foram consideradas variáveis de ajuste. As associações foram testadas pelos testes qui-quadrado e análise de regressão logística, estimando as Odds Ratio (OR) e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%). O teste t para amostras independentes e o U de Mann-Whitney foram utilizados para verificar se houve diferença nas médias das variáveis numéricas. O nível de significância foi estabelecido em p<0,05. Em relação à revisão sistemática, foram incluídos 17 estudos. Tendências positivas da obesidade abdominal, em ambos os sexos foram observadas em 12 estudos, tendências positivas no sexo masculino e nulas no feminino foram observadas em três estudos, um verificou tendência positiva no sexo masculino e negativa no feminino, tendências nulas foram registradas em dois estudos e um estudo encontrou tendência predominantemente nula, sendo positiva apenas em duas idades do sexo masculino e uma do sexo feminino. Em relação ao estudo empírico, observou-se tendência positiva da obesidade abdominal (Δ%: 60,9), no entanto, ao analisar por sexo, a tendência permaneceu positiva apenas no sexo feminino (Δ%: 87,5), sendo nula no masculino (Δ%: 35,5). Nos dois períodos e em ambos os sexos a baixa aptidão cardiorrespiratória esteve associada à obesidade abdominal, enquanto em 2017/18 não atender às recomendações de resistência abdominal e atividade física associaram-se à obesidade abdominal no sexo masculino. Tanto os estudos incluídos na revisão sistemática, quanto os adolescentes de Florianópolis apresentaram tendência positiva da obesidade abdominal. Entretanto, constatou-se que, à nível mundial, as tendências foram positivas principalmente nos meninos ao passo que nos adolescentes de Florianópolis foi observado o oposto, com incrementos nas meninas e estabilização nos meninos. Ademais, observou-se, no estudo empírico, associação da obesidade abdominal com aptidão cardiorrespiratória em ambos os sexos nos dois inquéritos, além de associação com resistência abdominal e atividade física em 2017/18, no sexo masculino. A prática de atividades físicas deve ser incentivada, com foco em exercícios que promovam a resistência abdominal e principalmente a aptidão cardiorrespiratória.

O trabalho não possui divulgação autorizada

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