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A antropologia tornou-se ciência no século XIX quando pressupostos científicos embasaram a sua prática. Porém, é uma conhecida desde os gregos antigos, antropos significa homem, logia, estudo. A busca pela compreensão do ser humano é tão antiga quanto sua própria existência.

Na ciência antropológica, no entanto, são comuns estudos de grupos, seus costumes, culturas, hábitos, crenças, e temas inter-relacionados a diferentes povos que habitam o planeta, nas mais diversas sociedades.

Quando antropologia e esportes se cruzam, o efeito é fantástico: ela acaba sendo uma lente para enxergar a prática esportiva a partir de novos e outros olhares que não os convencionais.

Esta coluna pretende apresentar livros sobre esportes com dicas para um olhar antropológico. É a lente da antropologia olhando para as manifestações esportivas contemporâneas.

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Ayton Senna, Saudade (Francisco Santos, Ed. Edipromo/Talento, 1999)

Aproveitando a data de 01 de maio que se aproxima, na qual completa 26 anos da morte do piloto brasileiro na fatídica curva Tamburello, no Circuito de Ímola, Itália, sugiro leitura deste livro de Francisco Santos. Cheio de fotos e fatos, de fácil acompanhamento, a obra nos convida a pensar para além dela.

Na história do esporte do país, Senna aparece num momento em que o “esporte nacional” (o futebol) não colhia bons frutos. Na Copa do Mundo de Futebol masculino de 1982 o selecionado nacional jogou bem, porém perdeu. Desde 1970 não houve outro título. Em termos de outras modalidades esportivas, o automobilismo e o voleibol serão os “esportes da vez” entre as décadas de 1980 e 1990, o que afetará a cultura esportiva do país em anos vindouros.

Na Fórmula 1, o Brasil figurou quatro vezes como vencedor dos mundiais da modalidade, sendo três dessas com Nelson Piquet (nos anos de 1981, 1983 e 1987) e uma com Ayrton Senna (em 1988). Além disso, Emerson Fittipaldi venceu as 500 milhas de Indianápolis em 1989, numa corrida da Fórmula Indy/CART (Championship Auto Racing Teams). O país tinha visibilidade internacional e representação a partir de um esporte que se tornava popular a partir da mídia.

O livro é dividido em curtos tópicos temáticos sobre a vida pessoal e profissional de Senna. O autor concede licença a outras falas, outros depoimentos e escritas sobre o piloto, deixando-nos curiosos acerca de perguntas nem sempre respondidas. Para além da questão da identidade nacional que mexia com todos, o que Ayrton representava, como pessoa, piloto, ou brasileiro?