Resumo

Em 2014, Gabriel Medina tornou-se o primeiro brasileiro campeão mundial de surfe profissional. Em 2015, Adriano de Souza conquistou o título. Tanto em 2016 quanto em 2017, dos 34 atletas classificados para disputar a íntegra do Circuito Mundial principal, nove eram brasileiros. A imprensa estrangeira passou a se referir ao fenômeno como Brazilian Storm (tempestade brasileira): além dos dois campeões mundiais, outros atletas obtiveram bons resultados, venceram etapas do circuito e apresentaram um surfe considerado por muitos como inovador devido à execução de certas manobras e à velocidade de progressão entre elas (fatores positivos para a atribuição de notas pelos juízes). Desde 2011, de forma ininterrupta, o estado do Rio de Janeiro sedia anualmente uma das onze etapas do Circuito. Dada a escassez de trabalhos sobre a história da mídia esportiva no período, bem como de trabalhos sobre a história do surfe, este artigo tem como objetivo analisar a cobertura do campeonato internacional Waimea 5000, realizado na cidade do Rio de Janeiro entre 1976 e 1982, em revistas publicadas nos EUA (Fortes, 2011; 2014). O tratamento das revistas de surfe sob o ponto de vista teórico segue os postulados de trabalho anterior (Fortes, 2011). A discussão de método se baseia na proposta de Lopes (2003). A metodologia segue ainda as propostas de Luca (2005) para a investigação histórica que tem como fonte e objeto os impressos, bem como as recomendações para a pesquisa em história do esporte elaboradas por Melo et al. (2013). As fontes são edições das revistas Surfer e Surfing publicadas no intervalo mencionado. Segundo distintas referências bibliográficas, tais títulos estavam entre as revistas especializadas em surfe mais importantes do mundo. A análise permitiu perceber aspectos privilegiados na cobertura: o desempenho dos atletas brasileiros, a qualidade das ondas, o comportamento da torcida e os atrativos da cidade para os visitantes estrangeiros. Boa parte dessas visões podem ser articuladas com representações estereotipadas do país encontradas em produtos midiáticos estrangeiros, sobretudo no cinema. Foram silenciados ou minimizados aspectos potencialmente problemáticos, como brigas e desentendimentos entre o público que assistia ao evento e os atletas estrangeiros. Ademais, o tratamento do campeonato pelas publicações permite discutir potencialidades e limites do então incipiente Circuito Mundial de surfe profissional masculino, iniciado em 1976, bem como as dificuldades enfrentadas pelos surfistas que se lançaram no caminho de buscar se tornarem atletas profissionais.