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Nenhuma cidade brasileira tem condições de sediar os Jogos Olímpicos. Nem o Rio de Janeiro, a nossa cidade-candidata para 2016, que disputa a indicação com Chicago, Tóquio e Madri. Apesar de sua inegável beleza natural, isso não basta para ser a sede de um dos mais importantes eventos mundiais. A paisagem carioca não consegue esconder as mazelas da cidade.
As gritantes distorções sociais, a falta de infraestrutura urbana elementar, a violência urbana, os maus-tratos ao meio ambiente, a inexistência de mentalidade olímpica e a experiência negativa do Pan-Americano de 2007 são alguns fatores que deixam o Rio muito distante dos rigorosos quesitos impostos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
O Tribunal de Contas da União (TCU) já constatou ter havido superfaturamento de 1.000% (você não leu errado, é 1.000% mesmo) nas contas do Pan realizado na cidade. Existem inúmeros processos sobre a má utilização do dinheiro público na ocasião. Esse fato repercutiu muito mal no exterior e serve para que os membros do COI não vejam a candidatura brasileira com bons olhos. É claro que não irão declarar isso em público. Mas nos bastidores a impressão de descuido com o dinheiro público é patente.
A experiência do Pan também mostra que os complexos esportivos que foram construídos, além de muito caros, não servem para Jogos Olímpicos. Nenhuma obra de infraestrutura prometida no dossiê de candidatura foi construída. A cidade continuou sem mais linhas de metrô, sem novas avenidas, sem mais ônibus, sem hospitais de qualidade, e a lagoa Rodrigo de Freitas e a baía de Guanabara continuaram poluídas, inapropriadas para a prática de esportes. Alguém acha que, para os Jogos Olímpicos, as autoridades agiriam diferente? Iriam cumprir o prometido?
A segurança no Rio de Janeiro é outro fator preocupante. Pelos dados da Secretaria de Segurança Pública, em 2009, houve 2.759 assassinatos no Estado, 12,3% a mais do que os ocorridos, no mesmo período, em 2008. Isso sem contar outros tipos de crime que viraram banais, como os furtos e pequenos roubos.
E, como se não bastasse sermos o país mais pobre entre os candidatos, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) apresentou a proposta mais cara. Enquanto o Brasil não for, a exemplo dos demais candidatos, medalha de ouro em saúde, educação, transporte, moradia, meio ambiente, segurança, alimentação, luz elétrica e esportes para todos, gastar tanto dinheiro em Jogos Olímpicos seria um ato de violência contra o povo mais pobre.
Antes de fazer jorrar dinheiro público para a construção de "elefantes brancos", como houve no caso do Pan-Americano, o Brasil precisa melhorar seus índices sociais. Essa ideia de que os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro transformarão o Brasil em potência é equivocada. O caminho é justamente o inverso. Temos que, antes, ser socialmente grandes e justos para só, então, pensar em Olimpíadas.
Disponível em: http://revistagalileu.globo.com/Revista. Acesso em: 02 jun 2016.