Integra

10-1-2013,
Olimpismo e Desenvolvimento do Desporto
Gustavo Pires

Nunca ninguém teve tanto poder, tanto dinheiro e tanto tempo disponível para mudar a face do desporto em Portugal quanto Vicente Moura. Ele, bem vistas as coisas, geriu um "Estado" que é o Comité Olímpico de Portugal (COP), dentro do próprio Estado. E sobreviveu a dezenas de Ministros, Secretários de Estado, Diretores e Subdiretores-gerais. No entanto, quem reparou naquilo que ele, no passado dia 8, foi dizer à Assembleia da República (AR): "...se não houver uma política desportiva, como tem acontecido até aqui com os vários governos, vamos ter menos modalidades, menos atletas e, provavelmente, zero medalhas no Rio", foi certamente levado a concluir que, o futuro ex presidente do COP se esqueceu que, nos últimos mais de trinta anos, ele foi o grande responsável pelo desporto no País!

Ele pertenceu a várias direções do COP desde princípios dos anos oitenta. E, nos dois últimos Ciclos Olímpicos, exerceu a presidência da instituição a título remunerado, pago principescamente, para além da sua reforma, com o dinheiro dos contribuintes!

Os verdadeiros líderes não se medem por aquilo que fizeram mas pelas condições que deixaram para que tudo possa, para além deles, vir a melhorar. O que um líder faz pode, simplesmente, ser o resultado das circunstâncias de uma conjuntura mais ou menos favorável. Contudo, o que fica para o futuro representa a capacidade do líder ver longe e com amplitude, analisar em profundidade, correr riscos e apostar no desenvolvimento das pessoas e da instituição que lidera.

Ora, depois de tanto tempo, de tanto poder e de tanto dinheiro, o que Vicente Moura augura para o desporto nacional é o caos!

Mas pior. Ele até deixou os Senhores Deputados numa falsa dúvida existencial quando disse: "...ou se quer incrementar o número de praticantes em geral, investindo no desporto de base, ou se querem seis medalhas e, aí, há que investir a sério no alto rendimento e assumir que se deixa de parte o resto".

Ele está errado. Desenvolver o desporto não é fazer uma opção entre a massa e a elite. Desenvolver o desporto é estabelecer uma relação virtuosa entre a massa e a elite através da determinação do nível desportivo que se deseja para o País em função das suas condições económicas e sociais.

Esperamos que os Senhores Deputados atribuam às opiniões do Comandante a importância que elas merecem mesmo sabendo que ele, sem dizer como, pretenda continuar a flutuar.