Resumo
Esta pesquisa tem por objetivo identificar e oferecer uma intepretação às formas que a luta e a resistência ao racismo assumem no esporte brasileiro, tendo como referencial elementar as narrativas e materiais biográficos de atletas olímpicos negros. Em destaque, estão as trajetórias esportivas de Alfredo Gomes, Melânia Luz, Soraia André e Diogo Silva, concebidas aqui como obras biográficas, guias da analisa dos desdobramentos da presença negra em um sistema esportivo historicamente marcado por contradições fundamentais, dentre as quais se destaca o racismo. O aporte teórico-metodológico que orienta esta interpretação inscreve-se no campo dos Estudos Pós-coloniais e das Epistemologias do Sul. Abordagens reconhecidas por privilegiar as vozes, saberes e conhecimentos produzidos por grupos sociais cuja inscrição na modernidade tem se configurado mediante estratégias de sobrevivência, rebeldia, protesto, luta e resistência categorias fundamentais ao próprio alargamento e reconfiguração dessa modernidade. Tomadas em conjunto, essas biografias negras falam de experiências sociais que, embora particulares ao campo esportivo, carregam características universais da diáspora negra, responsável pelo redimensionamento do referido campo. Esse quadro possibilitou a construção do que aqui se denominou antologia das resistências negras ao racismo no esporte brasileiro. Arranjo mediante o qual se sustenta três teses fundamentais, a saber. (i) Originalmente configurado e instrumentalizado para servir aos interesses de uma classe/raça e projeto societário específico, o esporte moderno impõe limites e expedientes adicionais aos sujeitos racializados como negros. Condição que os obriga construir estratégias de resistência e protesto contra arbitrariedades, sanções e políticas de esquecimento. Essa obrigatoriedade de agência política conecta esses atletas a um plano mais amplo da luta por emancipação na modernidade, o qual se convencionou chamar diáspora negra. Essa categoria teórico-histórica, que designa os movimentos do povo negro desenraizado e disperso oferece elementos à sustentação, como segunda tese, (ii) da existência de um Olimpismo Negro, isto é, de formas criativas de assimilação e experiência esportiva que não só submetem os postulados civilizatórios do esporte moderno a um rigoroso exame de realidade, como permite a passagem da celebração de valores na forma abstrata para a sua celebração na forma prática. A terceira e última tese parte da noção de que (iii) toda materialização da vocação humanista do esporte passa necessariamente pela recuperação da fortuna de imagens da desobediência e do protesto presentes nas obras biográficas dos seus protagonistas