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Se repararmos na evolução das Cartas Olímpicas (CO) ao longo dos tempos podemos verificar que durante os quase cento e vinte anos de vida do Comité Olímpico Internacional (COI) entre, anuários, cartas, aditamentos, protocolos e regras de interpretação podem-se contar inúmeras alterações, acrescentos e correções, aliás, como não podia deixar de ser. Quer dizer, as CO não têm sido documentos estáticos, mas, pelo contrário, têm revelado uma dinâmica a todos os títulos notável que, muitas vezes, não tem sido acompanhada pelo interesse dos dirigentes desportivos que, por dever de ofício, as deviam ter "na ponta da língua".

Se analisarmos a rubrica dos "princípios fundamentais" que, a partir da edição da CO de 1930 passaram a abrir o documento, podemos verificar que, das diversas alterações introduzidas, nem tudo correu bem. O conceito de Olimpíada, como vimos, foi um deles. Como foi também uma alteração introduzida na CO de 1958. O que aconteceu foi que o nº 6 dos "princípios fundamentais" da CO de 1949 dizia tão só: "não são qualificados para representar as cores de um país nos Jogos Olímpicos senão os nacionais desse país".
Entretanto, o nº 7 da CO de 1958 passou a dizer: "não são qualificados para representar as cores de um país nos Jogos Olímpicos senão os nacionais desse país. Os Jogos Olímpicos são competições entre indivíduos e não entre nações". Ora, este articulado, salvo melhor opinião, parece-nos ferido de profunda contradição.

Mas também tem havido transformações muito positivas. Por exemplo, enquanto a CO de 2010 no nº 7 dos "princípios fundamentais" diz que: " (...) Aliando o desporto à cultura e educação, o Olimpismo procura criar um estilo de vida fundado no prazer do esforço, no valor educativo do bom exemplo e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais.", a CO de 2011 no mesmo nº 7 diz: "(...) Aliando o desporto à cultura e educação, o Olimpismo procura criar um estilo de vida fundado no prazer do esforço, no valor educativo do bom exemplo, na responsabilidade social e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais." Quer dizer, foi acrescentado o valor da "responsabilidade social". O Olimpismo "é uma filosofia de vida que coloca o desporto ao serviço da humanidade". Ora, colocar o desporto ao serviço da humanidade é ter do desporto uma ideia de desenvolvimento que requer a consciência de uma responsabilidade social solidária que nada tem a ver com uma alucinação esquizofrénica que pretende fazer do COP uma fábrica de produzir medalhas olímpicas. As medalhas são verdadeiramente importantes quando integradas em políticas públicas geradoras de desenvolvimento humano.

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