Resumo
Esta pesquisa buscou explorar o olhar dos/as estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental de uma Escola Estadual sobre o Caderno do Aluno de Educação Física (componente do Currículo implementado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo). Numa fase exploratória, contou-se com observação de aulas de Educação Física de uma Escola Estadual na cidade de São Paulo e entrevista semiestruturada; contou também com investigação teórica, que foi pautada na Educação Física enquanto área das Ciências Humanas e no entendimento de currículo a partir do ponto de vista das relações de poder; ainda foram analisados os documentos que compõem o Currículo da SEE/SP, especialmente os que dizem respeito à Educação Física. Para a outra fase da pesquisa a intervenção , vista a opção pelos estudos freirianos, decidiu-se por realizar Círculos de Cultura com oito estudantes, tendo em vista a dialogicidade como eixo condutor, para o aprofundamento da interpretação dos sentidos revelados nas entrevistas realizadas. Os Círculos foram elaborados a partir das premissas: a) respeito e valorização dos saberes do/as estudantes através do direito a dizer a sua palavra; b) consciência da possibilidade de transformação do mundo através da assunção de sua condição oprimida e inacabada, assim como inacabado é o mundo; c) entendimento que saber não se ensina, se constrói, porque somos seres eminentemente relacionais; e d) superação da intransitividade da consciência pela a transitividade crítica. Os elementos discutidos nos Círculos coadunaram com o sentido de humanização proposto por Freire (1975). Foram estabelecidos dois eixos temáticos para a análise dos dados Cultura da Bola e Educação Bancária que, confrontados com os conceitos de voz (GIROUX, 1997; 1999) e de cultura do silêncio (FREIRE, 1975; 2013), buscou-se fundamentar a ideia de que a Educação Bancária impõe o silêncio e favorece a Cultura da Bola, enquanto deturpa a consciência acerca da construção do conhecimento e da realidade.