Resumo

Até o início do século XX, a praia de Fortaleza, recorte geográfico desta pesquisa, era frequentada majoritariamente por pescadores e estivadores, ou seja, era o universo principalmente do trabalho, e não aquele dos divertimentos (SCHRAMM, 2001). Gradualmente, uma vida urbana começa a impor valores, hábitos, novos ritmos, práticas, produzindo deslocamento de sentidos da praia, dando-lhe certa centralidade no mundo dos divertimentos e permitindo a emergência de novas sensibilidades. Os primeiros bangalôs, comércios e clube recreativos na orla surgem apenas na década de 1920 e 1930. Incentivado por contundentes discursos e práticas de cortes higienistas, a população passa não só a admirar o espaço litorâneo, mas a usufruir de seus benefícios, associados a um ideário de vida ao ar livre. O banho de mar, então, passa a ser uma prática habitual, aparecendo constantemente nas fontes do período. Este trabalho tem como objetivo analisar os discursos em torno da prática de banhos de mar e as circunstâncias em que esta prática passa a ser comum em um novo espaço de sociabilidade, isto é, o litoral. A delimitação temporal toma os anos de 1925 a 1945 e justifica-se uma vez que é em 1925 que se dá a mudança do nome de Praia do Peixe para Paria de Iracema; já 1940 é a década em que se tem clubes recreativos e esportivos já estão estabelecidos no litoral. As fontes desta pesquisa são jornais impressos do período (O Nordeste, O povo, Gazeta de Notícias e Correio do Ceará), revistas (A Jandaia e Ceará Ilustrado), livros de memórias e crônicas de escritores da cidade de Fortaleza e imagens. Este trabalho é recorte de uma pesquisa de mestrado, tem como referências teóricas e metodológicas autores da história cultural, em especial Roger Chartier (1990), Jacques Le Goff (2013), Alain Corbin (1989), entre outros, e explora a problemática das relações entre práticas de divertimento e vida ao ar livre.

Referências

CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Rio de Janeiro, RJ; Lisboa [Portugal]: Bertrand Brasil: DIFEL, 1990.

CORBIN, Alain. O território do vazio: a praia e o imaginário ocidental. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

LE GOFF, Jacques. História e memória. 7. ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.

SCHRAMM, Solange Maria de Oliveira. Território livre de Iracema: só o nome ficou? Memórias coletivas e a produção do Espaço na Praia de Iracema. 2001. 176f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Fortaleza, 2001.

Fonte de financiamento: Esta pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São  Paulo (FAPESP).