Resumo
As décadas de 1930 e 1940 se consolidaram como momento histórico de valorização da Educação, a qual se constitui motivo de atenção de Getulio Vargas, que desencadeou reformulações em toda a sua estrutura. Nesse período, a Educação Física Escolar adquiriu destaque na política educacional de âmbito nacional e passou a ser contemplada nos documentos constitucionais e nas reformas do ensino secundário, no caso a Reforma Campos e a Reforma Capanema, efetivadas, respectivamente, no ano de 1931, pelo então ministro Francisco Campos e, em 1942, pelo ministro Gustavo Capanema, a qual permaneceu em vigor até 1961. Esta pesquisa pretende desvelar o percurso histórico da Educação Física Escolar nos governos de Getulio Vargas nas décadas de 1930, 1940 e 1950. Para compor este quadro, recorreu-se ao conjunto documental de fontes escritas e iconográficas analisadas em diálogo com os relatos orais de seis sujeitos acerca de suas vivências, cuja abordagem teórico-metodológica pautou-se na história oral. O conjunto documental oral foi constituído pelos relatos de seis professores de Educação Física - quatro homens e duas mulheres, com trajetórias no processo de escolarização, bem como no percurso de formação e início da atuação docente no ambiente escolar público e/ou privado, localizados entre as décadas de 1930 e 1960. As experiências dos professores tanto na condição de alunos, bem como de professores, ressaltaram a relevância da política educacional do período na sistematização do ensino da Educação Física e na legitimação de práticas e procedimentos, bem como acenaram para as perspectivas de mudanças que se conjeturaram na área e colocaram em questão a permanência do método de ensino vigente. No entanto, essa perspectiva de mudança não se traduziu de forma imediata em uma transformação na prática docente dos entrevistados, na medida em que se observaram na atuação dos professores, referências à utilização do Método Francês ainda que em correlação às outras propostas metodológicas, bem como à permanência de procedimentos e práticas legitimadas na política educacional dos Governos Vargas, os quais, embora deslocados de seu propósito originário, continuaram figurando no cotidiano da Educação Física Escolar por décadas, sendo observados até mesmo na atualidade. Dentre eles ressalta-se o desenvolvimento de aulas separadas por sexo (masculino e feminino) e/ou delimitação de práticas corporais distintas para meninos e meninas. Percebeu-se a configuração da Educação Física no contexto escolar na confluência de processos que, se de um lado a demarcaram como uma prática legalmente instituída, determinando seus propósitos, meios e finalidades, de outro imprimiram à sua trajetória uma dinâmica própria em compasso com as mudanças que se processaram no contexto histórico, político, social e educacional.