Resumo
A migração para o Brasil tem um marco nos anos 50 quando os bolivianos vieram para estudar através de um intercâmbio Brasil-Bolívia ou ainda por fuga política. Mas a relevância dos movimentos migratórios da América Latina se destaca a partir da década de 70 devido ao processo de industrialização de países como o Brasil, a Argentina e a Venezuela além da fuga de suas respectivas pátrias por divergências políticas. A partir da década de 1980, houve um grande aumento de bolivianos que vinham para o Brasil, mais especificamente para São Paulo, não mais perseguidos por governos autoritários ou com fins apenas acadêmicos, mas sim pessoas com nível escolar baixo em busca de trabalho. O ramo da costura é o de maior atração dos bolivianos, em nível de trabalho na cidade de São Paulo, pois não requer muito estudo, nem tampouco aprendizado. Neste tipo de atividade existe uma rede de contratação e aliciamento de mão-de-obra, e os já estabelecidos estimulam os compatriotas a imigrarem para o Brasil. A relação trabalhista existente entre o costureiro e o dono da oficina é extremamente informal; o costureiro ganha normalmente por peça produzida, não há nenhuma segurança nem direito nas leis do Trabalho tornando-os vulneráveis as altas e baixas do mercado bem como da ganância de seus empregadores. Os bolivianos moram e trabalham normalmente nas mesmas oficinas e precisam pagar para o patrão, a máquina de costura onde trabalham, a moradia, água, luz e comida. E acabam endividados e praticamente "presos" as confecções. Os objetivos desta pesquisa foram de estudar os significados da prática do futebol pelos bolivianos na cidade de São Paulo na Praça Kantuta, as figurações sociais, as relações de poder, a diferenciação e as redes de interdependência relacionadas a esta prática. O método etnográfico foi usado através de observações, entrevistas e conversas com 72 jogadores de futebol bolivianos da Praça Kantuta. Observamos que os jogadores, dirigentes e 'donos dos times' formam redes de poder e de interdependência muitas vezes iniciadas em solo boliviano gerando configurações sociais que se expandem além da quadra. Eles, predominantemente, trabalham no ramo da costura e não pretendem retornar a Bolívia enquanto as condições de vida naquele país não forem favoráveis. Muitos deles vivem em condições desumanas e muitas vezes são acometidos por doenças oriundas da costura principalmente relacionadas ao aparelho respiratório por conta da aspiração de pó dos tecidos. Outras enfermidades estão associadas ao sistema músculo-esquelético devido ao grande tempo que ficam sentados em posições de costura. Muitos vivem de forma ilegal, denominados de "indocumentados" correndo riscos de serem pegos e deportados. Muitas vezes são humilhados devido ao estereótipo relacionado ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas e tráfico de drogas, construído por outros bolivianos. Admiram muito o futebol brasileiro, têm ídolos brasileiros, torcem por times nacionais e alguns freqüentam estádios. Os que jogam futsal na Praça têm nesta modalidade, a única atividade física no Brasil. De maneira geral se submetem aos "donos" das equipes que normalmente também são os donos das oficinas que trabalham. A quadra, localizada no centro da Praça, é ocupada durante a semana por moradores de rua e cercada por alambrado para dar segurança aos jogadores e espectadores. Este foi retirado recentemente, o que impediu a prática do futsal. O quadro dos Bolivianos em São Paulo é preocupante, tornando-se imprescindível que políticas públicas se atentem a estes imigrantes para projetos de moradia, saúde, educação e esportes. A cultura boliviana deveria ser mais valorizada e lembrada que é oriunda de uma das sociedades mais avançadas para a época que existiu: os Incas