Resumo

No ano de 2008 a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEESP) implementou um referencial curricular próprio em sua rede de escolas destinado ao Ensino Fundamental (anos finais) e ao Ensino Médio. O Currículo de Educação Física do Estado de São Paulo (CEF-SP) recebeu tanto críticas quanto opiniões favoráveis à sua implementação. Uma crítica bastante comum às implementações curriculares como a do CEF-SP, voltadas a grandes redes de ensino, é a de que tais ferem a autonomia de professores e escolas ao padronizarem os conteúdos ministrados nas aulas, desconsiderando-se assim, características socioculturais próprias de cada escola e região. Neste contexto, este estudo procurou compreender como uma professora desta rede de ensino desenvolvia sua prática pedagógica a partir das orientações curriculares oficiais. Realizou-se um estudo de caso etnográfico em uma escola do município de Rio Claro, com duração de 16 semanas, nas quais foram acompanhadas 70 aulas (aulas duplas com 1h40 de duração), somando-se pouco mais de 58 horas de observação. Além disto, ocorreram duas entrevistas semiestruturadas ao final do período de observação. O que se encontrou no estudo, foi uma professora com opinião favorável ao CEF-SP, tendo, no entanto, algumas críticas ao processo de implementação e ao próprio currículo. A respeito de sua prática docente, a professora não "aplicou" simplesmente as orientações didático/pedagógicas do CEF-SP, mas construiu, numa perspectiva ampliada de currículo, sua própria "alternativa curricular", ao adotar, excluir e/ou modificar as orientações oficiais e desenvolver atividades e experiências não previstas ou sugeridas no mesmo. Uma aparente tensão foi evidenciada nas aulas: por um lado a professora adotava as orientações oficiais do CEF-SP e, por outro, a mesma procurava desenvolvê- las a partir de convicções próprias para a disciplina, além de buscar corresponder a certas expectativas dos alunos. Normalmente, suas aulas eram divididas em uma parte principal, na qual os conteúdos previstos no currículo eram desenvolvidos, e um momento "livre", ao final da aula, no qual era permitido aos alunos escolherem que atividades realizar. A partir da perspectiva dos saberes docentes, desenvolvida por Tardif e colaboradores, pôde-se perceber que a professora se apoiou principalmente em seus saberes experienciais para estruturar sua alternativa curricular por um processo de "retomada crítica" do CEF-SP. Uma análise das "certezas experienciais" da professora evidenciou que tais certezas assumem papel central na constituição de sua ação docente. Com base nestes saberes o currículo oficial é interpretado, compreendido, avaliado e colocado em "movimento" nas aulas. Para podermos avançar na compreensão sobre as propostas curriculares oficiais e a prática docente tradicional, os saberes docentes, em especial os experienciais, precisam estar no centro de estudos futuros.

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