Resumo

Esta dissertação objetiva identificar os sentidos de corpo humano que permeiam o discurso dos acadêmicos ingressantes no curso de Educação Física, quando representam os seus futuros alunos/clientes, bem como, desvelar mitos, símbolos e crenças relativos ao corpo humano presentes no imaginário desses ingressantes quando projetam a sua atividade profissional depois de formados. Sobre os caminhos de elaboração e aprendizagem das práticas e técnicas de manejo do Imaginário Social, utilizamos a discussão das marcas lingüísticas mediante entrevista semiestruturada de acordo com a metodologia da Análise do Discurso. Em análise qualitativa, identificamos o sentido do corpo humano dos futuros alunos/clientes representados no corpo do idoso, no corpo perfeito e no corpo do atleta. No corpo do idoso, identificamos os sentidos: deficiência, limitado, inutilidade e qualidade de vida. A polissemia das marcas lingüísticas debilidade e limitação revelou um deslocamento de sentido do corpo idoso ativo para o corpo idoso deficiente, manifestado na representação mítica do deus grego Hefesto. O sentido limitado sinaliza um olhar para o envelhecimento que percorre os limites da degeneração através do tempo pela presença do mito Cronos. Já o sentido de inutilidade é revelador da crença no corpo desanimado, parado, mas há esperança revelada no sentido de qualidade de vida para o corpo idoso nas marcaslingüísticas coração e vida. O corpo perfeito é, então, identificado nos sentidos: lapidado, resgate, da academia, mídia-espetáculo, estética-saúde. Esses revelam a vaidade humana enfeitiçada pelo consumo das novas práticas tecnológicas emergentes nas quais o corpo torna-se matéria-prima descartável para ser modelado e corrigido. Esse sentido de corpo desvela o mito da deusa Pandora, esculpida e modelada da forma mais perfeita e eficaz, mas que apresenta insatisfação em relação à sua condição de semideusa. É possível, assim, afirmar a insatisfação do ser humano com o sentido do próprio corpo, então, distante da força, beleza e perfeição dos deuses imortais. Por isso, há a pretensão de se lapidar o corpo anatômico para transformar qualquer imperfeição do corpo em uma bela obra de arte. Sob a luz do corpo do atleta revelam-se os sentidos de dedicado e enquadrado através de mecanismos de disciplinamento que sustentam a continuidade de uma prática dominadora, coercitiva e limitadora que demarca o poder disciplinador dos corpos sobre a retórica corporal da honra. Entretanto, existe um silenciamento de sentido do corpo da criança na análise dos discursos dos informantes sobre o seu futuro aluno/cliente. Dessa forma, esse processo discursivo desvela a crença dicotômica marcada pela cultura do corpo-objeto entre o corpo imperfeito, representado nos sentidos do corpo do idoso, e os outros sentidos de corpo perfeito. Todavia, Cronos é implacável em se alimentar da própria vida humana. Tal que, o adeus de Eros revela a força de Cronos, visualmente presente nos sentidos de corpo humano apresentados neste estudo. 

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