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Espalhadas pela redação do diário carioca O Globo, diversas TVs ficam ligadas o dia inteiro e às vezes concentrando uma pequena plateia diante delas. Sem surpresa para ninguém, por ali as transmissões de jogos de futebol têm um dos ibopes mais altos. No entanto, o cronista Artur Xexéo, quatro Copas do Mundo no currículo, dificilmente vai ser encontrado nessas rodinhas de espectadores. Vai estar dois ou três televisores mais ao fundo da redação, totalmente vidrado numa trama de Gilberto Braga, nas táticas de guerra dos participantes do Big Brother Brasil ou, como não?, nos conflitos de Sally Field e sua grande família na série Brothers & Sisters.
É o olhar desse tricolor que, ainda de calças curtas, nos anos 1950, elegeu seu último grande ídolo no futebol há 50 anos, o goleiro Castilho, que o leitor vai encontrar em O Torcedor Acidental, livro que reúne, em 21 crônicas inéditas, memórias das andanças do cronista carioca durante suas quatro coberturas de Copa do Mundo (Estados Unidos, 1994; França, 1998; Coreia/Japão, 2002; e Alemanha, 2006). Como o próprio Xexéo ressalta, futebol é apenas o pano de fundo para suas coberturas do Campeonato Mundial de Futebol. Para usar uma palavra da moda, o cronista vai buscar a matéria-prima para seus textos na periferia dos palcos principais, longe dos fortes holofotes dos estádios.
Em O Torcedor Acidental, o leitor vai encontrar causos hilariantes como o da camareira marroquina cuja libido foi posta em ebulição por Luis Fernando Verissimo, uma visita a um castelo alugado por Gilberto Gil, o labirinto em que pode se transformar as ruas de uma cidade no Japão ou a vez em que Frank Sinatra pediu aflito a Xexéo que lhe apontasse o banheiro do estádio.
Outro tunfo deste segundo projeto editorial solo de Artur Xexéo - o primeiro foi uma biografia de Janete Clair - é revelar ao leitor um pouco do seu dia a dia e de seus colegas de equipe: "Seguir o circo da seleção brasileira na Copa do Mundo é levar vida de tartaruga. Você bota a casa nas costas e vai em frente."