Resumo

Este estudo teve como objetivo compreender os padrões biomecânicos adotados por sujeitos com e sem SDPF na realização de cinco atividades funcionais (marcha em superfície plana, subir e descer escadas e rampa). Participaram 65 indivíduos do gênero feminino, dos quais foram selecionados 57: 26 com SDPF (GSDPF) e 31 clinicamente saudáveis (GC), pareados em idade, estatura e massa corporal. Os dados foram coletados no Laboratório de Biomecânica da Universidade de Passo Fundo-RS. Inicialmente foi aplicada uma ficha de avaliação para caracterização dos sujeitos e o Questionário de Kujala para avaliação dos sintomas e limitações funcionais relativos à articulação patelofemoral. Foi avaliada a distribuição da pressão plantar (pico de pressão, área de contato e tempo de contato) em seis regiões plantares (antepé medial, antepé lateral, médio pé, retropé medial, retropé central e retropé lateral) por meio do Pedar-X durante a realização das cinco atividades funcionais. Foram realizadas também a análise cinemática (ângulo máximo de eversão do retropé e % da fase de apoio em que este ângulo foi atingido) através do APAS (Ariel Performance Analysis System) e avaliação isocinética (pico de torque e trabalho concêntrico/concêntrico) dos flexores e extensores do joelho nas velocidades de 180°/s e 60°/s através do dinamômetro isocinético Biodex Multi Joint System 3. A ordem de realização das avaliações foi randomizada. A intensidade da dor dos sujeitos antes e após as atividades foi avaliada pela Escala Visual Numérica (EVN). Os dados foram analisados por meio da estatística descritiva e inferencial (Testes U de Mann Whitney, T-independente, Wilcoxon e Anova 2x6), com nível de significância de p≤0,05. O GSDPF apresentou menor pontuação no Questionário de Kujala em relação ao GC (p=0,01). Não foram observadas diferenças entre os grupos no pico de pressão, área de contato e tempo de contato nas seis regiões plantares analisadas durante as cinco atividades funcionais. Adicionalmente, não foram constatadas diferenças entre os grupos em relação à magnitude do ângulo máximo de eversão do retropé. No entanto, o GSDPF atingiu este ângulo mais cedo na fase de apoio da marcha que o GC (p=0,01). A avaliação isocinética evidenciou menor pico de torque dos flexores (p=0,005 e p=0,03) e extensores (p=0,006 e p=0,004) do joelho nas velocidades de 180°/s e 60°/s e menor trabalho da musculatura extensora do joelho (p=0,05 e p=0,01) em ambas velocidades do teste isocinético no GSDPF. Houve também exacerbação da dor dos sujeitos após a realização das cinco atividades funcionais (p=0,01) e avaliação isocinética a 180°/s (p=0,007) e 60°/s (p=0,01). Sendo assim, os resultados do presente estudo, nas condições experimentais utilizadas, sugerem que não existe um padrão de comportamento da distribuição da pressão plantar que diferencie sujeitos com e sem SDPF durante a realização das cinco atividades funcionais propostas no estudo. No entanto, sujeitos com SDPF alcançam a eversão máxima do retropé mais cedo na fase de apoio da marcha em superfície plana, sugerindo uma estratégia para evitar um possível surgimento ou agravo dos seus sintomas, além de apresentar menor torque dos flexores e extensores do joelho e trabalho dos extensores do joelho em relação a sujeitos assintomáticos.