Resumo

Se em meados do século passado o jogador de futebol formava-se, a partir daquilo que Freire (2003) denominou como “pedagogia da rua”, nas ruas, praças, terrenos baldios, várzeas, “campinhos de pelada” e demais espaços públicos, nas últimas décadas, cada vez mais, esse papel de formação do atleta tem sido atribuído às escolas de esportes, mais reconhecidas como “escolinhas”, e aos “centros de formação” (DAMO 2007), ou seja, às categorias de base dos clubes profissionais. Diversas são as justificativas para que cada vez mais os clubes invistam, tempo e dinheiro, no departamento amador e qualifiquem o processo de formação/produção do jogador de futebol. Entretanto, todas elas estão fundamentadas em três modelos de formação/produção apontados por Damo (2007): endógeno, exógeno e híbrido. Assim, este estudo tem como objetivo averiguar o perfil das categorias de base do futebol brasileiro, identificando e discutindo seus problemas, virtudes e principais interesses. Metodologicamente, partimos de uma revisão bibliográfica e um estudo de campo envolvendo observações e a solicitação a três dirigentes e seis integrantes de comissões técnicas de três clubes profissionais de futebol para o preenchimento de um questionário elaborado pelos autores contendo oito questões abertas e fechadas. Os procedimentos éticos foram garantidos com a apresentação e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual expusemos nossos objetivos, necessidades metodológicas e garantimos o anonimato dos sujeitos participantes. Ao serem questionados sobre o grau de importância dos setores dentro de um clube (categorias de base, departamento médico, jogadores profissionais, diretoria e comissão técnica) a grande maioria dos entrevistados considerou todos eles como muito importantes por considerarem que um clube não consegue se organizar/estruturar sem que todos os setores trabalhem em conjunto. Notamos a partir da análise das respostas que há um descontentamento em relação à algumas características das categorias de base, sobretudo o investimento (78% consideram como ruim ou péssimo), ao passo que o talento dos jovens jogadores foi apontado como a principal virtude. O interesse dos clubes com suas categorias de base está pautado em lucro e qualificação do elenco profissional. A maioria dos participantes julga as categorias de base do futebol brasileiro niveladas em relação ao continente sul-americano e atrasadas quando comparadas com o futebol europeu. Ainda assim, a maioria manifestou-se descontente com o panorama apresentado atualmente nas categorias de base no futebol brasileiro. Para o aprimoramento do processo de formação dos atletas se faz necessário ampliar os investimentos, comprometimento, planejamento e interesse de todos envolvidos neste processo.

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