Resumo

Este trabalho resulta de uma investigação a respeito das perspectivas teórico-metodológicas das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) na formação em educação física em universidades públicas brasileiras a partir dos currículos de graduação. Parte do referencial teórico-conceitual inspirado nas obras de Boaventura de Sousa Santos, que nos permitem compreender as PICS sob a perspectiva do paradigma pós-moderno e pós-abissal no contexto da saúde, buscando localizar a educação física nessa discussão, identificando os limites e potencialidades que os currículos de graduação, palco de disputas de pontos de vista, oferece. A pesquisa foi dividida em 3 etapas: 1. Revisão bibliográfica da produção científica sobre PICS e a formação em saúde nas graduações em saúde, com foco na educação física; 2. Análise documental envolvendo os currículos das universidades brasileiras que oferecem cursos de graduação em Educação Física; 3. Apontamentos sobre produção de conhecimentos como aposta metodológica. As 3 fases foram sistematizadas em 3 artigos e 1 resumo apresentado em congresso da área. O primeiro artigo é uma análise geral sobre as graduações em educação física no país evidenciando o crescimento do ensino privado e EaD e a concentração de cursos nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O segundo resulta do estudo das matrizes curriculares de graduação em educação física das universidades públicas brasileiras, com foco para a formação em saúde coletiva, em que foi observada a presença de disciplinas isoladas, quando presentes de maneira obrigatória, que privilegiam as ciências biológicas, com baixa carga horária e falta de inserção e diálogo com os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). O terceiro artigo apresenta desfechos da análise, nos mesmos cursos do artigo 2, a respeito da formação em PICS através da oferta disciplinar sobre a temática e das linhas de pesquisa em Programas de Pós-Graduação e Grupos de Pesquisa liderados por profissionais da área, com pouca inserção do tema nos currículos, ofertas majoritariamente optativas e tecnicistas, sem diálogos com a saúde coletiva e com o SUS e pouca participação da educação física na produção científica em PICS. O resumo de congresso traz um recorte a partir do levantamento feito no artigo 3, apontando a ausência de abordagens sobre as medicinas tradicionais, cosmovisões ameríndias ou africanas ou mesmo sobre uma antropologia da saúde, nas formações em educação física e incluindo a Residência Multiprofissional em PICS (RMPICS), cenário em que a discussão também é ausente, problematizando o epistemicídio não apenas nas universidades, mas também na Política Nacional de PICS (PNPIC). O estudo contribui com achados relevantes para discutir a formação em PICS, considerando também o contexto da saúde coletiva, no sentido de superar as tradições curriculares da área da saúde e própria educação física, ainda marcadamente tecnicistas e utilitaristas.

Acessar