Resumo

O Pão de Açúcar Esporte Clube (PAEC) foi um dos primeiros clubes-empresa a surgir no Brasil, assumindo a característica de entidade com fins lucrativos em suas práticas. Inaugurado em 2004 como projeto social do Grupo Pão de Açúcar (GPA) o clube tinha como objetivo formar “atletas para os gramados” e “cidadãos para a sociedade”, segundo a filosofia da própria empresa. Concomitantemente à formação/produção de jogadores para o mercado futebolístico, o clube buscou durante sua existência alcançar a elite do Campeonato Paulista, ascendendo, em sete anos, da série B à série A1. Desde 2014, o clube se mantem na primeira divisão, buscando também conquistar uma vaga em alguma série do Campeonato Brasileiro para inserir-se em um circuito mais amplo do futebol profissional. Porém, entre 2004 e 2014, o PAEC passou por modificações, sendo possível identificar ao menos quatro momentos ao longo de sua existência que indicam formas diferentes, porém complementares de se fazer futebol no Brasil: 1) O da formação das categorias de base do clube como projeto social no interior do que o GPA chama de “iniciativas de responsabilidade socioambiental e qualidade de vida”, funcionando como uma espécie de negócio social; 2) O da formação da equipe profissional e a alteração de nome para Audax Esporte Clube, mudando sua estratégia de captação de jogadores e apontando para uma postura diferente em relação ao mercado com a conquista de um público torcedor; 3) Em decorrência de mudanças no controle das ações do GPA, assumido pelo grupo francês Casino, o Audax foi vendido para Mário Teixeira – dono do Grêmio Esportivo Osasco. Naquele momento, o clube deixava de se caracterizar como um projeto social, ainda que continuasse investindo na chancela da “responsabilidade social” na formação do atleta. 4) O quarto momento se refere ao empréstimo dos jogadores e da comissão técnica do clube – agora Grêmio Osasco Audax Esporte Clube – para o Guaratinguetá Futebol Ltda, clube que participou com a equipe citada da Série C do Campeonato Brasileiro no ano de 2014. Após três anos de pesquisa percorrendo esses momentos – através do acompanhamento do clube em jogos, entrevista com jogadores e outros funcionários, e da análise de documentos publicados pelo clube –, foi possível levantar pistas sobre como, de projeto social, o PAEC gradualmente se instituiu como exemplo de formação de atletas e de gestão sustentável. Em tempos de consonância entre futebol e racionalidade neoliberal, o investindo em capital humano na formação de jogadores – capacitando-os para se gerirem e serem geridos no mercado como empresas – explicita faces do jogador que se constroem enquanto este circula no mercado profissional.

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