Resumo
Objetivo: Analisar a relação entre gordura corporal e espessamento arterial entre adolescentes, bem como, identificar o possível papel mediador da atividade física e proteína C reativa nesse processo. Métodos: Estudo de carácter longitudinal, dados provenientes do estudo longitudinal em andamento “Analysis of Behaviors of Children During Growth” (ABCD Growth Study). Inicialmente a amostra foi composta por 285 adolescentes (202 meninos e 83 meninas), seguindo os critérios de inclusão: i) idade entre 11 e 17 anos; (ii) não possuir distúrbio metabólico e/ou clínico (anteriormente diagnosticado), que atrapalhe a prática de atividade física habitual; (iii) não fazer uso de medicamento que possa interferir na pressão arterial; iv) envolvimento mínimo de 12 meses na modalidade esportiva; v) grupo não esporte, nos últimos 12 meses, não estar envolvido em atividades esportivas; iv) o termo de consentimento e assentimento assinados pelos pais e voluntários, respectivamente. Após 12 meses de segmento a amostra foi composta por 189 adolescentes (127 meninos e 62 meninas). A participação esportiva, idade cronológica, etnia e sexo foram avaliadas por meio de entrevista face-a-face. A gordura corporal (GC) e de tronco (GT) foram estimadas através da densitometria óssea. A espessura médio-intimal das artérias carótida (EMIC) e femoral (EMIF) foram mensuradas por meio de ultrassonografia. A maturação biológica foi estimada através do pico de velocidade de crescimento (PVC) e foi utilizada como covariável. Variáveis sanguíneas foram avaliadas para compor um indicador de dislipidemia. A atividade física moderada a vigorosa (AFMV) foi estimada por um relógio com função de acelerômetro (POLAR®, modelo V800 – Kempele, Finlândia), e a proteína C reativa (PCR) foi dosada através de um kit específico. Foi calculado o tamanho amostral. As variáveis numéricas foram apresentadas média, desvio padrão e intervalo de confiança de 95%. Teste t de Student foram utilizados para comparar os momentos entre linha de base e o segmento. Correlação de Pearson foi utilizada para verificar o relacionamento entre ganho de adiposidade e espessamento arterial. Análise de covariância (ANCOVA) para comparar desfechos cardiovasculares com participação esportiva. Modelo de Equação Estrutural foi utilizado para avaliar o relacionamento entre obesidade e espessura arterial levando em consideração o papel mediador da atividade física e proteína C reativa, ajustado por sexo, idade cronológica, pressão arterial, maturação biológica e dislipidemia. Todas as análises foram realizadas nos seguintes softwares BioEstat (versão 5.0) and Stata (versão 15.0), a significância estatística foi fixada em 5% (p<0,05). Resultados: Os meninos aumentaram o peso (p-valor=0,001), estatura (p-valor=0,001), PVC (p-valor=0,001) e diminuíram a GT (p-valor=0,001), já as meninas, aumentaram o peso corporal (p-valor=0,001), a estatura (p-valor=0,001) e avançaram o PVC (p-valor=0,001). No modelo estrutural, houve relação positiva entre GT e PCR (r= 0,206 [IC95%: 0,064 até 0,349]), e também entre a PCR e EMIC (r= 0,180 [IC95%: 0,032 até 0,328]). Conclusão: A PCR parece ter um papel mediador mais relevante do que a atividade física no espessamento arterial. A prática esportiva não afetou os valores de PCR ao longo do segmento, mas a sua ausência potencializou a relação entre adiposidade e espessamento arterial.