Integra

Nas centenas de artigos que escrevi nos últimos anos denunciando a corrupção no esporte e apontando nomes dos (ir)responsáveis costumava encerrar com um alerta: “E até agora ninguém foi preso”.

    Hoje, a realidade é outra: o primeiro cartola está preso há 38 dias, no Rio de Janeiro: Coaracy Nunes, que por 28 anos comandou o desporto aquático.

    Estranhamente, só Coaracy foi premiado, porque a quadrilha é maior. E, bem investigado, vai bater na mesa de ex-poderosos do Ministério do Esporte, de onde saía a grana, desde Agnelo Queiroz, em 2003. E já se fala numa devassa da Polícia Federal no Comitê Olímpico do Brasil. A máfia dos Senhores dos Anéis precisa dessa investigação. Dezenas de auditorias do TCU mostram que a corrupção é real.

Enquanto isso...

    Apesar dos megaeventos que sediamos, ainda lamenta-se a falta de um plano nacional de esporte e a total ausência de programas para usar as instalações olímpicas, como já ocorrera com o Pan 2007. Mas o que é isso diante da realidade que se discute sobre a necessidade ou não da educação física na grade escolar? Apesar de termos um Ministério do Esporte e um Conselho Nacional do Esporte, nossa realidade é da Idade da Pedra.

O Brasil tem, há mais de uma década, todas as instituições do esporte funcionando: Ministério, COB, CPB, Confederação Brasileira de Clubes, confederações de todas as modalidades, Confederação de Desporto Escolar, Universitário, Comissão Desportiva Militar, enfim. A esses órgãos juntou-se uma tal de “Autoridade Pública Olímpica”, agora transformada em “Autoridade Governamental de Legado Olímpico”.

O objetivo da nova entidade que Michel Temer decidiu dar continuidade é o mesmo de governos passados: cabide de empregos para aliados.

Diante dessa balbúrdia, começam a surgir algumas soluções esporádicas e isoladas, como a participação de atletas nos órgãos colegiados das confederações. É uma discussão antiga e justa, mas os atletas querem se envolver na gestão do esporte?

Outra dúvida sobre essa representatividade: os atletas eleitos vão se reunir com seus colegas, vou consultá-los pelas mídias sociais para se posicionarem e votarem pela categoria? Farão isso com uma abrangência que lhes permita se posicionar diante dos temas mais polêmicos? Ou a posição que tomarão – e voto, consequentemente – será individual, de acordo com suas convicções? E como é essa representatividade, apenas um atleta? Um por estado? Isso não está definido.

Sugestões para debate:

O Brasil esportivo precisa ser repensado e redimensionado. Precisamos definir:

É da competência do Governo Federal colocar dinheiro público no esporte de rendimento profissional? Conforme a resposta, sim ou não, escolhe-se o caminho.

Em segundo lugar, avaliar se o sistema federativo – federações por estado – são eficientes e atendem à realidade atual. Sem esquecer que as federações vêm de 1941, ou seja, tem 76 anos!!!

Mas, se não compete ao Estado investir no esporte profissional que se aplique, imediatamente, o artigo 217 da Constituição: o dinheiro público para o esporte deve ser aplicado, prioritariamente, no desporto escolar. Nas últimas décadas, foi exatamente o contrário. E fizeram isso sem um Plano Nacional do Esporte nem um Sistema Nacional, confiável, eficiente. O resultado dessa desordem está nas nossas barbas.

Acredito nessa última alternativa, o Estado envolvido apenas com o desporto na escola. Não para formar atletas, mas para oferecer aos estudantes uma atividade física prazerosa e que contribua para a formação do caráter dos jovens, além de ajudar a reduzir as reprovações e melhorar a qualidade de vida e tudo o mais que, cansativamente, já se sabe.

Nesse caso, as atribuições não seriam exclusivas do Ministério do Esporte, mas um trabalho conjunto com os da Educação e Saúde, principalmente. É a vez de perguntar: as excelências querem isso?

Voltando aos nossos atrasos...

Os Jogos Escolares, que já foram os “tradicionais JEBS”, são promovidos e organizados, há mais de uma década pelo Comitê Olímpico!!!! Isso que temos uma Confederação Brasileira de Desporto Escolar!!!! Desculpem, mas não é uma esculhambação?

Isso sem falar que os “atletas” que participam dos atuais “Jogos Escolares da Juventude” não são resultado do que praticam na escola – nem deveriam ser –, mas atletas “federados”, isso é, já a caminho do profissionalismo. Ou seja, é uma mentira enorme e um desperdício de governo sem igual.

Finalmente:

Não há dúvidas de que, da mesma forma que existe um exagero de entidades do esporte, há uma intromissão muito grande do Estado e do governo nas iniciativas do esporte em geral, e, em especial, no alto rendimento.

O que em outros países é tratado como “negócio”, “business”, aqui ainda depende das muletas da verba pública, o que contribui para dupla acomodação dos cartolas: eles não modernizaram suas gestões nem se interessaram em promoções do esporte como fonte de atração do público e, daí, a valorização da imagem para ter uma rica fonte de renda. Em segundo lugar, perpetuam-se em seus cargos, inacreditavelmente assalariados públicos.

É nesse panorama que existe um projeto de lei, elaborado por dez advogados do esporte, propondo alterações na legislação, a Lei Pelé, especificamente. Mas, mudar a lei sem termos o “sistema” definido? Sem saber quem é quem nessa balbúrdia que favorece e incentiva intensa corrupção?

Não temos para onde correr, porque o ministério do Esporte é de mentirinha, de faz de conta, onde governam ministros que não sabem sequer distinguir um taco de golfe de um de beisebol. E as excelências não estão nem aí para essa discussão.