Resumo

O presente estudo buscou analisar em perspectiva comparada os processos de incorporação da prática esportiva no cotidiano militar das Forças Armadas de Brasil e Estados Unidos da América e seus principais argumentos oficiais de legitimação em um recorte temporal que se estende de 1914 até 1922. Para tal, adotou a abordagem “Contraste de Contextos” da História Comparada (SKOCPOL; SOMERS 1980). Colocando em diálogo os campos da História do Esporte e da História Militar, buscou-se compreender como as experiências bélicas dos dois países impactaram as concepções com relação aos usos do esporte em diferentes contextos de mobilização militar. O corpus documental selecionado para esta tese compreende fontes das categorias documentais e impressas, pois foram as que se mostraram mais profícuas para as discussões propostas (PINSKY, 2006). Após as análises, foi possível considerar que no Brasil a prática do esporte entre os militares foi primariamente compreendida como aspecto de preparação do físico e elemento de treinamento de habilidades funcionais necessárias ao exercício militar. Não havia a concepção da utilização do esporte em momentos de conflito, como ocorrido no caso estadunidense. Em decorrência do nãoenvolvimento direto das Forças Armadas brasileiras em grandes conflitos armados ao longo dos anos finais do século XIX e iniciais do século XX, as atenções das instituições estavam voltadas ao processo de reestruturação, modernização das formas de treinamento e reaparelhamento militar. O foco estava em se mostrarem preparadas e potentes para o caso da ocorrência de conflito. Por não vivenciarem a experiência bélica efetivamente, não se estabeleceram preocupações com as atividades de tempo livre dos militares em períodos de mobilização e confronto. Já o envolvimento das Forças Armadas estadunidenses em conflitos internacionais e ocupações militares no período em análise fomentou a criação de argumentos diferenciados. As autoridades dos EUA defendiam a organização de atividades esportivas entre os militares em combate como forma de controle do tempo livre e estímulo de características competitivas vistas como úteis nas batalhas. As preocupações mais frequentes residiam em como desenvolver, por meio da prática esportiva, aspectos ligados à moralidade e masculinidade dos militares. O esporte foi, portanto, amplamente defendido como elemento importante para o desenvolvimento do pessoal militar, tanto no aspecto físico como moral, nos dois países. No entanto, na análise comparativa entre Brasil e EUA foi possível identificar ênfases argumentativas diferenciadas baseadas em suas experiências bélicas. Seja como ferramenta utilitária de preparação do corpo e desenvolvimento de habilidades funcionais, seja como elemento de fortalecimento da moral e da masculinidade, é inegável a já constante presença do esporte no cotidiano das Forças Armadas dos dois países no recorte da pesquisa. Essa relação já se mostrava consolidada décadas antes da criação do Conseil International du Sport Militaire (CISM), entidade responsável por divulgar o esporte e organizar competições entre Forças Armadas de todo o mundo criada em 1948 ao final da Segunda Guerra Mundial. As aproximações entre militares e esporte se ampliaram em todo o século XX, chegando ao patamar de realização de megaeventos esportivos exclusivos, caso dos Jogos Mundiais Militares organizados desde 1995 pelo CISM. 

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