Resumo
O presente estudo tem os seguintes objectivos: a-) delinear um modelo teórico, pedagógico e cientificamente justificado, capaz de fundamentar o enquadramento do sistema de competição desportiva para atletas em fase de formação; b-) analisar os modelos vigentes nas organizações desportivas em Portugal; c-) verificar a concepção dos treinadores quanto à adequada organização das competições desportivas para crianças e jovens; d-) verificar os pontos convergentes e divergentes entre o quadro competitivo proposto pelas federações e associações, a concepção dos treinadores e as orientações e recomendações na literatura. Optamos por uma metodologia qualitativa, por nos permitir conhecer a lógica predominante nos modelos de competições. Na investigação, efectuada em dois estudos empíricos, foram seleccionadas dez modalidades: basquetebol, voleibol, andebol, futebol e rugby, atletismo, ginástica artística, natação, judo e ténis de mesa.No primeiro estudo, analisamos os conteúdos dos documentos das federações e associações desportivas de Portugal. No segundo estudo, realizado com trinta técnicos, aplicamos uma entrevista estruturada. Os conteúdos das entrevistas foram transcritos e tratados no programa de análise QRS-NVIVO V.2.0. Constatamos, no quadro competitivo vigente e nas concepções dos treinadores a indicação de um enquadramento geográfico a nível nacional e de idades de 7 e 8 anos para o início da participação competitiva, divergindo das recomendações da literatura, que as considera precoces. Quanto ao formato do calendário, o acesso à competição, a inclusão de apuramentos e os conteúdos das actividades competitivas, as concepções dos treinadores apresentam maiores convergências com as recomendações da literatura do que o modelo vigente de competições. No sistema competitivo actual, os conteúdos das actividades são especializados, com eliminatórias e com o objectivo de revelar o campeão, adoptando uma lógica próxima a competições do alto nível. São necessárias reformulações no sistema de competições vigentes em Portugal. É preciso atribuir à competição uma função formativa que ganhe significado pedagógico, contribuindo, desta maneira, com a formação desportiva a longo prazo.