Resumo

A intenção principal da pesquisa foi problematizar o modelo de parques públicos adotado pela cidade de Curitiba. Buscou-se compreender como esse modelo se insere dentro de uma proposta moderna de planejamento que se configura a partir de projetos urbanísticos, que buscam marcas identitárias, por meio da produção de espaços que associam equipamentos modernos, lazer, cultura e natureza. Tratou-se de realizar uma triangulação entre esse modelo, seu processo de concepção e planejamento e a relação do cidadão curitibano com esses espaços. O estudo partiu da seguinte indagação: por que Curitiba desenvolveu com forma identitária espaços urbanos de lazer centrados no sistema de parques públicos? Para o presente estudo, adotei como procedimento metodológico a etnografia, procurando guiar-me pela análise cultural proposta por GEERTZ (1989). Para tanto, realizei um mapeamento sobre estudos referentes ao modelo de planejamento urbano de Curitiba a partir da década de 70 e uma análise do caso curitibano de parques urbanos por meio de observações sistemáticas e entrevistas semi-estruturadas com usuários do Parque Municipal Barigüi, urbanistas do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) e com pessoas ligadas à Secretaria Municipal do Meio Ambiente e à Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Curitiba. Esses procedimentos buscaram abordar alguns aspectos principais relacionados à criação, implantação e apropriação do modelo proposto. Entre outros aspectos evidenciados na pesquisa, pode-se apontar que a criação desses ambientes, além de terem preservado grandes áreas verdes no interior da cidade, evitou a habitação nos fundos de vale, preservou as matas ciliares, e, por meio de seus lagos artificiais, regulou a vazão dos rios que cortam a cidade. Tais espaços oportunizam ainda uma aproximação cotidiana entre sujeito e natureza, pelas experiências no âmbito do lazer e da cultura. Essas experiências são facilitadas em função da localização, dos equipamentos, da infra-estrutura e da acessibilidade dos parques. Observou-se que a dinâmica desses ambientes se efetiva com práticas corporais e lúdicas, que promovem novas formas de se relacionar com a natureza, novas relações sociais, novas maneiras de pensar a vida e um certo "sentimento de pertencimento" à cidade. Um aspecto bastante peculiar entre os habitantes da cidade de Curitiba, evidenciada fortemente nas entrevistas com usuários do Parque Barigüi, é a relação afetiva com a cidade, o que sinaliza a existência de um típico modo de vida coletivo em que está presente uma certa admiração pelos espaços públicos, especialmente os parques. Essa interação entre espaço e cidadão facilitou a adesão da população a essa composição de espaço e, hoje, os parques públicos marcam a identidade da cidade. Diante desses e de alguns outros aspectos, foi possível sustentar o argumento de que o modelo de parques públicos adotado pelo planejamento urbano de Curitiba foi incorporado pelos habitantes da cidade, os quais, com práticas socais ricas e interessantes, dão vida à marca identitária: "Curitiba cidade dos parques"

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