Resumo

Bem-estar é um conceito multidimensional que inclui vários aspectos de saúde física e mental, suporte social, relacionamentos e capacidade para lidar com situações de estresse e que busca compreeender as avaliações que as pessoas fazem da própria vida. Por ser um constructo complexo e dinâmico, a identificação das variáveis que afetam o bem-estar da população, muitas vezes, é difícil e pouco explorada. Assim, o propósito desta dissertação foi analisar a autopercepção de bem-estar e a associação com características sociodemográficas, comportamentais, de suporte social e autorrelatos de saúde em trabalhadores do setor industrial no Brasil. Para isso, foi realizada uma análise dos dados de um inquérito epidemiológico transversal desenvolvido pelo Serviço Social da Indústria em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina, com amostra representativa de 24 estados brasileiros e do Distrito Federal, no período de 2004 e 2006 a 2008. O desfecho autopercepção de bem-estar foi definido como o grau em que o indivíduo avalia a satisfação com a vida em três contextos distintos: lar, trabalho e lazer. Para cada uma das dimensões foi aplicada a seguinte pergunta: #Como você se sente, atualmente, em relação à sua vida no... (lar, trabalho e lazer)? Para cada questão foram oferecidas cinco opções de resposta. Na perspectiva de melhorar o entendimento do desfecho em relação aos fatores associados, foi construída uma escala ordinal contínua de três a 15 pontos com base na seguinte pontuação, conforme as opções de resposta em cada domínio: (1) muito mal; (2) mal; (3) mais ou menos; (4) bem; (5) muito bem. Para estimar a prevalência de bem-estar, o desfecho foi dicotomizado em percepção negativa e positiva, sendo definida como percepção negativa aqueles trabalhadores que atingiram de três a nove pontos na escala, e positiva de 10 a 15 pontos. Posteriormente, a distribuição dos trabalhadores em relação às percepções de bem-estar foi analisada mediante quatro intervalos quartílicos. A estatística inferencial foi realizada por meio da Regressão Logística Multinomial, estimando-se razões de odds e intervalos de confiança de 95%. Participaram deste estudo 44.477 industriários sendo 69,9% do sexo masculino. A percepção de bem-estar positivo esteve presente em 93% dos trabalhadores, sendo mais prevalente no gênero masculino e indivíduos nos mais jovens, da região sul do Brasil, com renda e escolaridade elevadas, com adoção de comportamentos saudáveis como não fumar, não consumir bebidas alcoólicas em excesso e ativos no lazer. Trabalhadores declarados religiosos praticantes, com percepções positivas sobre a saúde e qualidade do sono e com baixa frequência de estresse e sintomas depressivos, tiveram chances mais elevadas de uma melhor percepção de bem-estar comparado aos seus pares. A prevalência de bem-estar positivo foi alta em trabalhadores das indústrias brasileiras, porém detectaram-se importantes diferenças entre indivíduos com características sociodemográficas distintas. Além disso, confirmou-se que aspectos comportamentais, de suporte social e autorrelatos de saúde são fatores de substancial importância na avaliação do bem-estar. Espera-se com estes resultados, que este assunto seja abordado com maior profundidade pelos pesquisadores da área, dada a sua importância para o subsídio e planejamento de políticas públicas.

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