Resumo
Atletas de competição estão sujeitos às lesões musculares que poderiam ser evitadas ou minimizadas, se o acompanhamento de indicadores bioquímicos, metabólicos e emocionais, durante os treinamentos, fosse realizado como rotina, o que aumentaria o tempo de vida útil do atleta no esporte. O objetivo deste estudo foi mensurar as concentrações séricas de marcadores bioquímicos de lesão músculo-esquelética e o estado psicológico de atletas profissionais de futebol de equipe da primeira divisão. Foram avaliados 11 atletas do sexo masculino com 26,5 (± 7,5) anos de idade, com altura de 1,73 metros (± 0,5 cm) e peso 77,1 (± 3,8 kg). As coletas de dados ocorreram ao longo de todo o macrociclo anual de treinos e jogos, sempre antes dos treinos, no período matutino, em seis períodos distintos do treinamento: pré-temporada (PT), período competitivo um (C1) período competitivo dois (C2), período competitivo com intervalo de 72 horas após a última atividade (período de recuperação) (C72), período competitivo três (C3) e período competitivo quatro (C4). Diariamente, antes da coleta de sangue para as avaliações bioquímicas, aplicou-se um questionário de acompanhamento das variáveis psicológicas através da escala de BRUMS. Na avaliação bioquímica do sangue, foram realizadas dosagens séricas de: creatina cinase (CK), lactato desidrogenase (LDH), aspartato aminotransferases (AST) e alanina aminotransferase (ALT), magnésio (Mg²+) e cálcio (Ca²+). Na análise dos dados os atletas foram divididos em dois grupos; o grupo 1 era composto por atletas que apresentaram na avaliação PT resultados nas concentrações enzimáticas dentro dos valores de normalidade; o grupo 2 era composto por atletas que apresentaram valores das concentrações enzimáticas acima dos valores de normalidade. Os valores enzimáticos e minerais encontrados para os períodos analisados demonstram variações significativas quando comparados a PT para os dois grupos. As concentrações de CK a LDH e AST demonstraram uma grande sensibilidade ao aumento de risco para a lesão, tanto para o grupo 1 quanto para o grupo 2 apresentando aumentos progressivos e simultâneos para os períodos analisados. A ALT, Ca²+ e Mg²+ não são bons marcadores para o controle de risco para a lesão no futebol em ambos os grupos. A escala de BRUMS apresentou boa reprodutibilidade para avaliação do estado psicológico dos atletas sob treinamento, as variáveis de maior importância para a detecção do risco de lesões são fadiga e vigor e apresentam correlação significativa com os marcadores bioquímicos. Foi observado um total de 15 lesões ao longo do estudo, distribuídas em 11 atletas. Os períodos de maior incidência de lesões para o grupo 1 foi em C4 (3 lesões 75%) e para o grupo 2 foi em C1 (3 lesões 60%). Quando visualizamos a freqüência e distribuição de lesões nos períodos observados, podemos afirmar que existe uma tendência a ocorrer um maior número de lesões nos períodos onde encontramos os maiores aumentos das concentrações bioquímicas, principalmente de CK, LDH e AST, juntamente com o aumento da tensão e fadiga, seguido por uma diminuição progressiva do vigor. Os resultados deste estudo demonstram uma relação muito importante entre o desgaste causado pelo treinamento excessivo e o estresse emocional provocado em resposta à agressão do organismo pela rotina de treinos e jogos do atleta profissional de futebol. Evidencia-se a necessidade do controle bioquímico e psicológico do treinamento tanto para a identificação do desgaste físico e mental, quanto para a prática de ações preventivas visando à preservação e o aumento da vida útil do atleta.