Resumo
Os objetivos do presente estudo foram avaliar em ratos fêmeas os efeitos metabólicos, cardiovasculares e autonômicos: 1) da privação dos hormônios ovarianos na presença ou não de hipertensão associada ou não a alterações metabólicas induzidas pela sobrecarga de frutose; 2) do treinamento físico em ratas hipertensas ooforectomizadas submetidas ou não à sobrecarga de frutose. Foram utilizados 16 ratos Wistar fêmeas e 32 ratos espontaneamente hipertensos fêmeas (SHR) dividas em 6 grupos (n=8 cada): controles sedentárias (CS), ooforectomizadas sedentárias (OS), ooforectomizadas hipertensas sedentárias (OHS), ooforectomizadas hipertensas treinadas (OHT), ooforectomizadas hipertensas sedentárias tratadas com frutose (FOHS) e ooforectomizadas hipertensas treinadas tratadas com frutose (FOHT). O tratamento com frutose consistiu na diluição de frutose na água de beber (100g/L de água). A ooforectomia foi realizada através da secção dos ovidutos e remoção bilateral dos ovários. A concentração sanguínea de glicose e triglicerídeos e o teste de resistência à insulina foram utilizados para avaliar o perfil metabólico. Os grupos treinados foram submetidos a um programa de treinamento físico em esteira ergométrica (1 hora/dia, 5 dias/semana, 8 semanas). Ao final do protocolo, os animais foram canulados para registro direto de pressão arterial (PA), avaliação da sensibilidade barorreflexa, através das respostas de taquicardia (RT) e bradicardia (RB) reflexas a alterações de PA induzidas pela injeção de doses crescentes de nitroprussiato de sódio e fenilefrina, e dos tônus vagal (TV) e simpático (TS), através (i.v.) do bloqueio vagal (atropina, 3mg/Kg) e simpático (propranolol, 4mg/Kg). Além disso, avaliou-se o controle autonômico cardiovascular no domínio do tempo e da freqüência (análise espectral). A ooforectomia promoveu aumento no peso corporal. O grupo FOHS apresentou aumento significativo nas concentrações sanguíneas de glicose e triglicerídeos e menor KITT (constante de decaimento da glicose) no teste de tolerância à insulina quando comparado aos demais grupos ao final do protocolo. O grupo OS apresentou maior pressão arterial média do que o CS (121±2,5 vs. 108±1,4 mmHg no CS). O consumo de frutose provocou um aumento adicional na pressão arterial média e taquicardia no grupo FOHS (174±3,6 mmHg e 398±14 bpm) em relação ao OHS (162±4,7 mmHg e 348±16 bpm). A ooforectomia provocou uma redução na sensibilidade barorreflexa para as RT no grupo OS em relação ao grupo CS. Os animais dos grupos hipertensos (OHS e FOHS) apresentaram menor sensibilidade barorreflexa para as RB do que os animais CS. Além disso, os grupos OHS e FOHS apresentaram uma redução adicional da RT quando comparados ao grupo OS. O consumo de frutose provocou uma redução do TV no grupo FOHS (5±3 bpm) em relação aos demais grupos estudados (CS: 55±5; OS: 37±6; OHS: 35±7 bpm). Além disso, o TS foi maior no grupo FOHS quando comparado ao CS (91±18 vs. 39±10 bpm no CS). O índice RMSSD, indicativo de atividade parassimpática, foi significativamente maior no grupo FOHS (3,33±0,40 ms) quando comparado ao CS (7,41±0,83 ms) ou OS (7,60±0,88 ms). A banda de baixa freqüência do intervalo de pulso (BF-IP), correspondente à modulação simpática, estava reduzida no grupo FOHS em relação aos demais grupos, enquanto a banda de alta freqüência do intervalo de pulso (AF-IP), que corresponde à modulação parassimpática, foi significativamente menor no FOHS em relação ao CS. O grupo OHS (7,03±0,34 mmHg) apresentou maior desvio padrão da pressão arterial sistólica (DP-PAS) quando comparado ao CS (4,69±0,45 mmHg). O DP-PAS, a variância da pressão arterial sistólica (VAR-PAS) e a banda de baixa freqüência da pressão arterial sistólica (BF-PAS) foram maiores no grupo FOHS em relação ao grupo CS e OS. A redução na banda BF-PAS no grupo FOHS foi significativa quando comparada também ao grupo OHS. O índice alfa, que tem sido aceito como um índice da atividade barorreflexa espontânea, foi menor nos grupos OHS e FOHS quando comparados ao CS. O consumo de frutose induziu uma redução adicional do índice alfa no grupo FOHS em relação ao grupo OS. Além disto, o treinamento físico foi eficaz em reduzir a glicemia, os triglicerídeos sanguíneos e a resistência à insulina no grupo FOHT em relação ao FOHS. Os valores de pressão arterial foram menores no grupo OHT (146±3,1 mmHg) quando comparado ao grupo OHS (162±4,7 mmHg). Foi observada melhora na sensibilidade barorreflexa para RB e RT no grupo OHT em relação ao OHS associado a aumento no TV. O treinamento físico também normalizou a taquicardia e induziu redução do exacerbado tônus simpático cardíaco e da banda de BF-PAS no grupo FOHT em relação ao grupo FOHS. O treinamento físico induziu aumento na sensibilidade barorreflexa espontânea, representado pelo índice alfa, no grupo OHT (1,13±0,13 ms/mmHg) em relação ao OHS (0,79±0,11 ms/mmHg), e no grupo FOHT (0,67±0,09 ms/mmHg) em relação ao FOHS (0,29±0,03 ms/mmHg). Concluindo, a privação dos hormônios ovarianos induziu disfunções cardiovasculares e autonômicas que foram agravadas pela presença de hipertensão e ainda mais exacerbadas quando associadas ao consumo crônico de frutose. A melhora na sensibilidade barorreflexa arterial, a diminuição dos níveis de atividade nervosa simpática e/ou aumento da atividade nervosa parassimpática causadas pelo treinamento físico, que foram ainda associadas à melhora no perfil metabólico (grupo submetido ao consumo crônico de frutose) em ratas hipertensas submetidas à privação dos hormônios ovarianos podem ter importantes implicações clínicas se confirmadas em estudos futuros em mulheres e reforçam o importante papel da prática de exercícios físicos regulares como forma de tratamento nãofarmacológico nas disfunções induzidas pela privação dos hormônios ovarianos em presença de hipertensão associada ou não a alterações metabólicas.