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Um breve comentário publicado em um número recente do Danish Medical Journal (43:367, 1996) traz à tona mais um grave caso de plágio na literatura biomédica. Durante uma pesquisa na base de dados Medline, um grupo de pesquisadores dinamarqueses deparou-se com um trabalho idêntico a um por eles próprios publicado em 1989. Tratava-se de um estudo sobre níveis de concentração sérica de selênio que, para a surpresa destes pesquisadores, aparecia outra vez em 1992, desta vez na revista polonesa Przeglad Lekarski e assinado por "novos" autores.

Infelizmente casos como este são mais freqüentes do que se imagina e para muitos, trata-se da modalidade mais comum de acusações e processos em curso no mundo acadêmico (British Medical Journal, 297:1531, 1988; Nature, 376:721, 1995).

Mas quão freqüente é o plágio? Para melhor dimensionar a extensão do problema em seu país, pesquisadores noruegueses realizaram um inquérito sobre má-conduta em pesquisa biomédica. Para tanto, foram aplicados 274 questionários a profissionais de diferentes instituições (Tidsskr Nor Lægeforen, 25:3148, 1995). Os resultados indicaram que 10% dos entrevistados conheciam algum caso de plágio e 3% de "fabricação" de dados no âmbito de seu próprio grupo. Além disso, 58% indicaram o próprio envolvimento em algum tipo de má-conduta, em geral co-autoria em trabalhos nos quais não haviam efetivamente participado.

Multiplicam-se os casos de pós-graduandos que reportam sentirem-se prejudicados pelo fato de seus orientadores utilizarem indevidamente os resultados de suas pesquisas (Science, 269:1712, 1995). Igualmente graves têm sido as denúncias envolvendo revisores em revistas científicas ou em agências de financiamento que tiram proveito do acesso privilegiado a documentos não publicados, apropriando-se de dados e/ou idéias originais em seus próprios trabalhos (Science, 269:1125, 1995, 270:1912, 1995).

O plágio está assumindo níveis tão alarmantes que comitês especiais e reuniões têm sido organizadas para tratar da questão, como a Conference on Plagiarism and Theft of Ideas, promovida pela American Association for the Advancement of Science em 1995. Além disso, agências de financiamento e centros de pesquisa em vários países vêm colocando a questão na pauta de discussões. Entre os objetivos, visa-se a um consenso acerca de questões práticas, como a definição de plágio em ciência, e estabelecer procedimentos administrativos e jurídicos visando coibir e punir tais práticas.

No Brasil pouco se fala sobre plágio em ciência. Isto certamente decorre menos da ausência do problema no país do que da falta de iniciativas para aprofundar esta discussão. Basta lembrar do recente episódio envolvendo pesquisadores do Instituto Butantan e do Instituto Adolfo Lutz, que foi estampado nas páginas dos principais jornais do país e provocou polêmica até mesmo na comunidade científica internacional (Nature, 380:371, 1996).

Chamar atenção para o problema do plágio e roubo de idéias é um primeiro passo no sentido de se iniciar um debate mais amplo sobre má-conduta em ciência, pois este é um tópico que deve ganhar maior visibilidade no futuro próximo. Muito possivelmente os debates sobre propriedade intelectual tornar-se-ão cada vez mais complexos em um contexto no qual aumenta a competitividade, escasseiam as fontes de recursos e idéias e resultados de pesquisas são divulgadas cada vez mais rapidamente, muitas vezes mesmo antes de serem efetivamente publicadas, através de congressos ou, mais recentemente, das redes eletrônicas de comunicação.

Carlos E. A. Coimbra Jr. 
Editor ­ Cadernos de Saúde Pública

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