Integra
Era 1963 quando Carlos Lyra e Vinicius de Moraes fizeram um dos mais marcantes musicais brasileiros – “Pobre menina rica”, estrelado por Nara Leão e pelo próprio Lyra. Trazia canções inesquecíveis como “Primavera”, mas talvez a mais importante tenha sido “Se você quer ser minha namorada”, pedido feito à menina rica do título, por um jovem “vagabundo”. Foi montada várias vezes, aqui e no exterior, e até chegou ao cinema estrelada por Patrícia Pillar e Djavan, com o título “Para viver um grande amor”.
Pois agora são pobres meninos ricos que estão procurando grandes amores pelo mundo, e estão dispostos a pagar muito caro por isso. Para isso utilizam agências especializadas como intermediárias.
Intermediários de romances e casamentos não são nenhuma novidade. São conhecidos os Casamenteiros que unem desconhecidos e quem servem a todas as classes sociais. É uma profissão de forte importância em culturais tradicionais, há muito tempo, tanto no ocidente como no oriente. São responsáveis pelos chamados “casamentos arranjados”.
Depois, foram substituídos pelas Agências matrimoniais, e isso começou, no dizer de muitos, na Inglaterra, no final do século XVIII. Hoje convivem lado a lado, mas dividem espaço com sucessores mais populares que pululam na Internet, com sites e chats especializados, e segmentados. É “Tinder” para todo lado, com variações de faixas etárias, gêneros, religiões, preferências sexuais, etc.
E preciso lembrar que o Youtube, registrado por três cofundadores em 2005, foi inicialmente um site de namoro por vídeo, ampliando depois, como todos sabemos, a suas possibilidades.
Basta dar um google para verificar que as agencias matrimoniais ainda são uma realidade em todos os lugares.
A diferença é que atualmente são os meninos ricos que pagam para encontrar seus amores verdadeiros. Os “dotes”, tão importantes desde sempre, mas antes sob responsabilidade da família das meninas, são antecedidos por recompensas grandiosas oferecidos aos “cupidos” por profissionais bem-sucedidos. Usam a mesma lógica do investimento financeiro das suas atividades profissionais, para a paquera, em busca do par perfeito.
Segundo o New York Times, nos Estados Unidos, as recompensas chegam a 100 mil dólares.
Outras notícias dão conta que a agência “Cupid in the city”, em Londres, recebe pedidos de jovens executivos que tendo se esforçado ao máximo nos estudos e investido muito na carreira profissional ficaram sem tempo para namorar e encontrar garotas. Isso é agravado, segundo eles, pela emancipação feminina, pois as mulheres também se dedicam com afinco as suas atividades profissionais, deixando para mais tarde a procura por parceiros. Os “pobres meninos ricos”, aqui, além da aparência física detalhada, exigem das possíveis pretendentes a independência financeira, e que tenham a mesma ambição e gosto pelo sucesso que eles.
Em São Paulo, segundo a imprensa local, muitos casais se formaram no primeiro site de formação de casais judeus do Brasil — o Zivug (em tradução livre do hebraico, "cara-metade"). Já existe em vários estados brasileiros e pretende se expandir para a América Latina, mantendo viva a tradição judaica, na qual os casamenteiros são vistos como abençoados por Deus.
Na Coréia do Sul, as Agencias de casamento são esperanças vivas para combater a baixa natalidade e até os governos organizam encontros de namoro. O número de Agências cresceu muito nos últimos anos, chegando a quase mil. A percepção de quem procura os serviços mudou muito, de pessoas que se sentiam rejeitadas, para gente que procura alguém que bata com suas necessidades. Um dos motivos foi o isolamento provocado pela COVID 19, mas as possibilidades de encontros espontâneos estão diminuindo cada vez mais, mesmo pós pandemia, devido as novas configurações socioculturais. As taxas pagas são altas, variando de 8,5 mil a 42 mil reais, mas há também agências de “alto padrão”.
Sejam quais forem os motivos, o fato é que “casamenteiros” sempre existiram e continuam proliferando, com adaptações que os atualizam na cultura contemporânea oriental e ocidental, com diferentes públicos que variam de acordo com as situações e condições econômicas dos pretendentes. São necessários e continuarão sendo pois o motivo de sua existência, a procura de relacionamentos é uma necessidade do ser humano, em qualquer tempo e espaço.
No caso dos “pobres meninos ricos” americanos e ingleses, suas qualificações postas na mesa do “negócio do amor”, e suas exigências para o “par ideal”, são bem diferentes das qualidades do pretendente “vagabundo” da “Pobre menina rica”, de Vinicius e Lyra, que se qualifica como compositor de canções e poeta, para quem mais vale “ser mendigo do que ladrão”, comparando-se aos seus oponentes na conquista,
Ricos, pobres, bem-sucedidos, religiosos, tímidos, ocidentais ou orientais todos eles querem amenizar sua pobreza sentimental e sua solidão, tão características do nosso tempo, com ou sem romantismo, dominados pela lógica do investimento ou da paixão, na busca por seus pares perfeitos.
Aliás, “Par perfeito” é um site de relacionamentos bastante popular, casamenteiro ou não.
Parte do livro “BALAIO- grandes temas em pequenos escritos”, a ser publicado pela Editora Mercado de Letras, em outubro de 2025.