Resumo

A pesquisa partiu da observação de uma diminuição da polarização urbana do Rio de Janeiro sobre a Zona da Mata/Juiz de Fora (seu principal núcleo) em detrimento de Belo Horizonte. O objetivo deste estudo foi dimensionar essa gangorra da polarização metropolitana exercida na região por meio do futebol, a fute-polarização. A influência urbana sobre a Mata foi dimensionada. Partimos da presença do futebol no Brasil como fato socioespacial para chegarmos à Mata, onde elencamos o futebol como uma modernidade articulada com as redes de transportes e de cidades, e com seus divulgadores proeminentes (escolas, jornais e rádios). Ao contato com a novidade futebol, grupos sociais passaram a criar times e identificações por meio das sedes sociais, campos e estádios, formação de torcidas e de uma futeiconografia (insígnias, cores e mascotes) utilizada pelos clubes de futebol. Nas cidades matenses, o futebol foi favorecido pela ideologia do higienismo, pela destinação de espaços públicos defronte das igrejas (onde se jogava futebol) e pela divulgação exercida por imigrantes (italianos), estudantes repatriados do exterior ou internamente (comumente do Rio), além dos jornais e rádios. Em escala nacional e regional, traçamos a trajetória da mídia (dos impressos à TV) como meio de apreensão de torcedores, pois as cidades-sedes dos grupos de comunicação Rio e São Paulo obtiveram um extenso território sob domínio de suas agremiações de futebol. Assim, levantamos historicamente como o maior contato da Zona da Mata com o Rio de Janeiro fez dela uma região de influência carioca: caminhos e estradas seculares, além da penetração de emissoras de rádios e de televisão fizeram dos matenses torcedores dos times cariocas. Para tal, usamos fontes primárias (jornais, arquivos públicos, sites dos times). Além disso, a disputa entre Juiz de Fora e Belo Horizonte para sediar a nova capital de Minas (final do século XIX), aliada a uma posterior decadência econômica regional e da tardia conexão viária (meados do XX) e econômica com Belo Horizonte atrasaram a influência da capital mineira na Mata, refletida apenas nas últimas décadas. A partir de todo esse panorama passamos a dimensionar a polarização urbana via futebol. Analisamos e cartografamos as preferências clubísticas nos 142 municípios da Mata Mineira, que ficou cingida por uma diagonal NE-SW: a leste dela, domínio do Rio de Janeiro, e a oeste domínio de Belo Horizonte, além de São Paulo se postar na contenda em ambos os lados. Cotejamos os territórios das torcidas com as transmissões de jogos de futebol pelas rádios e pelas TVs (afiliadas da Globo) da região, que reforçam uma ou outra metrópole. Como senda analítica, utilizamos as noções de redes e de redes urbanas. Por fim, relacionamos a fute-polarização com a fute-iconografia a fim de discutir as identidades territoriais da região, que é comumente taxada na literatura de ter pouca mineiridade. Encontramos verdades, mas também exageros e omissões diante de uma suposta não/pouca vinculação Mata-Minas. Via futebol, concluímos que a polarização carioca é maior no S-SE da Zona da Mata, enquanto Belo Horizonte domina o N-NW, confirmando a hipótese inicial.

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