Integra
Nunca um adjetivo se aplicou tão bem a situação política como atualmente, nas eleições para prefeitos e vereadores: BIZARRO, “característica de estranho, grotesco ou incomum, esquisito, diferente, extravagante; que apresenta comportamento insolente e arrogante. E isso se manifesta nos nomes dos candidatos, nas “propostas”, e no comportamento de grande parte dos envolvidos.
Talvez a melhor encarnação do BIZARRO, seja um candidato a prefeito da maior cidade do país, com um orçamento gigantesco, e que é também um sucesso de mídia, a começar pela televisão, onde é campeão de audiência, alcançando, com suas intervenções belicosas e mentirosas, índices bem maiores do que qualquer outro, passando pelas redes sociais, onde é um Imperador.
É o circo, não o do picadeiro, muito saudável e que reúne talentos, mas o da expressão Pão e circo. Não tem pão, nem com “leite condensado”, nem com “picanha”, então dá-lhe circo.
A plateia, mesmo mantando cachorro a grito, tendo cachaça e palito nas refeições, dando nó em pingo d’água, andando na corda bamba feito equilibrista da vida e da morte, sendo chamada de comodista, “...ainda aplaude, ainda pede bis, a plateia só deseja ser feliz”. “Pois é, seu Zé”, canta o Gonzaguinha.
É uma situação tão absurda e irônica, que “seria cômica se não fosse trágica”; comédia e tragédia ao mesmo tempo. Não são pessoas, são atores desempenhando papéis em busca de aplauso, mas atores canastrões, disputando a preferência do público. Situação engraçada para alguns, mas triste e lamentável para outros. Uma dualidade de sentimentos, tão presente em tempos de ânimos exaltados e posições radicais, mas que paradoxalmente não vão à raiz de nada e ficam na superfície das frases de efeito vazias, numa polarização que não leva a nada.
Debates, nem pensar, não há respeito para troca de ideais, apresentação de propostas, para convencimento em busca de uma construção coletiva. Cada um fala para si mesmo e para um grupo de pessoas que já espera ouvir o que falam. Nem um movimento, necessário para a mudança. Só a imutabilidade das múmias, só que essas não estão embalsamadas com finos balsamos. Essas fedem, um odor muito desagradável. Estão podres. Mas teimam em ficar em pé, não caem. Só cairiam se forem derrubadas, mas fazem de tudo para continuar se escorando no sagrado direito chamado voto de quem confia a elas as decisões e o controle do dinheiro fruto da sua suada contribuição à sociedade, ao país. No fundo continuam insolentes e arrogantes como todo bizarro, mas se escondem com as máscaras de um teatro que estranhamente não é arte.
Jogam o jogo uns dos outros, e se um apela para a baixaria, os outros também baixam o nível, em busca de “cortes”, para suas propagandas nas redes sociais, e de apoio de alguns setores da mídia, que nem procuram mais disfarçar as suas preferências, para salvar o argumento da neutralidade da imprensa. Cabos eleitorais, disfarçados de “jornalistas” defendem na cara dura mesmo, os seus candidatos, como se fossem parte da propaganda política, e na verdade o são.
Absurdas e bizarras também são as propostas veiculadas na propaganda eleitoral gratuita, imposta a nós, em que candidatos a prefeitos não só a pequenas, mas até mesmo a grandes cidades prometem: “eu vou trazer mais verbas para a cidade porque sou o candidato do Presidente”, como se o Presidente fosse o dono do Orçamento, e se as verbas devessem ser distribuídas para apadrinhados do mesmo partido, e não pelas necessidades da população da cidade. Ou os que querem dar continuidade à fama de Mito, desfilando ideias retrógradas, mentiras e crenças fundamentalistas de vários gêneros.
Nessa linha chocam também as propostas, ou a não propostas dos candidatos a vereador. Muitas delas são apelativas, buscando o reconhecimento em frases melosas e que objetivam provocar comoção barata, a procura de identificação. E dá-lhe cadeiras de rodas, muletas, distribuição de comida, projetos sociais assistencialistas, cuidados fofos com os animaizinhos, beijo em criança no colo, afago em velhos etc.
Os nomes registrados dos candidatos são também os mais bizarros possíveis: Porkim da Limpeza, Andre Putz Grilla, Michele sem Mimimi, 100 Mizéria, Alemão DU Gas, Barbudo do Uber, Lado a lado, Luiz Papai Noel do Leblon, Negona do Bolsonaro, Pouca Roupa, Pretinho My God, Alaíde Obrigada de Nada, Mano do Reboque... Alista da bizarrice é interminável. (respeitamos a grafia registrada)
“Pois é, seu Zé”, se não der para rir ou para chorar, pelo menos “Bota um sorriso nos lábios”, continua cantando o Gonzaguinha. O “Brasileiro, profissão esperança” da peça do Paulo Pontes, está cansado de ser enganado, mas continua se enganando com falsos profetas, mitos e salvadores da pátria, de acordo com as pesquisas de intenção de voto. Eu pelo menos tenho esperança de que na pesquisa para valer, a das urnas, a situação mude de figura e que os resultados não sejam BIZARROS, como as campanhas.