Resumo
As discussões contemporâneas em relação ao campo do currículo têm se orientado na perspectiva de construções de propostas curriculares locais que dê visibilidade à participação da comunidade docente em seus diferentes momentos e aos processos culturais e experiências dos alunos como meio de se construir identidades múltiplas, favorecendo o empoderamento em contraposição às políticas curriculares globais que ainda se apresentam aos espaços escolares caracterizadas como verticalizadas, centradas no Estado, homogeineizantes e prescritivas. De acordo com essa perspectiva, analiso a política curricular da Educação Física do município de Juiz de Fora MG, cujo texto político é denominado Programa Municipal de Educação Física diretrizes curriculares (PROMEF), que se configura como uma política curricular local e diferenciada pelo fato de ter oportunizado a construção coletiva entre os responsáveis pelo Departamento de Educação Física escolar e os professores dessa disciplina que atuavam cotidianamente nas escolas contando, inclusive, com uma busca das manifestações culturais e de lazer das comunidades trabalhadas, para subsidiar os conteúdos que foram sistematizados como conhecimento pedagógico da Educação Física municipal. Esse estudo teve, assim, o objetivo de analisar a política curricular da Educação Física escolar desse município, destacando o contexto de produção desse texto político e verificar se os objetivos de tal proposta se viabilizam no contexto da prática e se essa proposta curricular se configura como incentivadora de construções identitárias múltiplas e ao empoderamento. Para dar encaminhamento aos objetivos, foram realizadas 28 entrevistas semi-estruturadas com os participantes do processo de construção da proposta e sua relação com o contexto da prática e análise do documento escrito PROMEF. De acordo com os dados coletados, essa diretriz avança em termos de políticas curriculares por ter oportunizado aos professores participarem de todo o seu processo de construção, mas não propicia o empoderamento e a construção de identidades múltiplas por pautar, sobretudo, numa orientação didático-metodológica que reforça o conhecimento historicamente elaborado, destacando a cultura discente apenas na perspectiva da superação e não como um caminho na busca do diálogo cultural crítico.