Resumo

No pós-Segunda Guerra ocorreram diversas mudanças mundiais no bojo das políticas públicas, eclodindo em novas percepções conceituais em várias áreas. O esporte também passou a questionar suas bases, resultando na emergência de uma nova perspectiva, a do esporte não formal. Nessa premissa, foi desenvolvido na Noruega o Movimento Esporte Para Todos com vistas a ofertar atividades que propiciassem a prática do esporte de participação, lógica que se capilarizou por diversos países no mundo. No Brasil, sua estruturação ocorreu durante a década de 1970, período em que estava em vigência o Governo Militar. E apesar de existirem estudos que investigam o referido fenômeno, pouco se discutiu acerca de sua estruturação no país, frente as mudanças globais e nacionais que estavam em voga naquele momento. Ao partir desse pressuposto, o objetivo do presente trabalho foi analisar se o desenvolvimento do Esporte Para Todos no Brasil evidenciou um processo determinístico, conforme sugerido em parte da literatura da área da Educação Física, investigando, para tanto, algumas obras que abordaram o Esporte Para Todos no Brasil com base na teoria marxista e, em termos analíticos, considerando as ambiguidades presentes na dinamicidade dos processos políticos e sociais daquela época. No que diz respeito ao instrumento metodológico, o trabalho é do tipo exploratório de natureza qualitativa. Para tal, realizou-se uma revisão exploratória de dois livros (CAVALCANTI, 1984; CASTELLANI, 1988), e uma análise documental de dados oficiais (decretos, leis, orientações etc.) do aparato institucional do governo brasileiro durante a década de 1970. Ao realizar a análise dos dados foi possível verificar que a linhagem marxista na EF, rotinizou a visão do EPT como instrumento de controle social em suas produções científicas. Além disso, identificou-se uma interpenetração do global com o local – e vice versa – no processo de implantação do Programa no Brasil. Por outro lado, percebeu-se que o desenvolvimento do EPT não se resumiu apenas às influências do campo econômico, mas ocorreu por meio de outras esferas sociais. Em termos gerais a releitura teórica reflexiva e cosmopolita do EPT brasileiro empreendida nesse estudo, possibilitou uma nova perspectiva acerca da história contada sobre o programa no país, evidenciando os processos cegos e surdos da modernização reflexiva no globo. Todavia, acredita-se que a cientificização reflexiva efetuada, subsidie a realização de outros trabalhos que venham aprofundar o debate acerca das categorias utilizadas, ampliando a diagnose sobre o EPT no Brasil.

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