Resumo
A contemporaneidade mostra como evidente e enfática a necessidade de transformação do mundo. Mas como pensar essa questão na especificidade das discussões sobre o lazer? Como uma reflexão sobre as apropriações conceituais do lazer pode contribuir para tal feito? Como pensar um lazer com possibilidades transformadoras? Para tanto, não podemos desconsiderar a mediação que o lazer mantém com a sociedade, com o processo produtivo/processo de trabalho e com a qualificação humana, tendo em vista que ele próprio pode contribuir no processo de análise e compreensão do homem em suas relações e práticas sociais. A explicitação do seu papel social e da sua relação com o processo de produção da vida nos levou a uma compreensão do lazer como um fenômeno contraditório, como uma prática social, uma atividade humana e histórica que se define no conjunto das relações sociais, no embate dos grupos ou classes sociais sendo, ele mesmo, forma específica de relação. O lazer, quando apreendido no plano das determinações e relações sociais e, portanto, ele mesmo constituído e constituinte destas relações, apresenta-se historicamente como um campo de disputa hegemônica. Esta disputa se dá na perspectiva de articular as concepções, a organização dos processos e dos conteúdos do lazer. Dessa forma, este estudo teve por finalidade discutir as perspectivas conceituais pelas quais o lazer vem sendo entendido para que fosse possível refletir, de maneira dialética, sobre suas apropriações, definições e interpretações, permitindo, assim, abrir perspectivas para alternativas de ação neste campo específico. Por meio da análise, explicitação e exposição das semelhanças, distinções e categorias explicativas das produções presentes no debate teórico da Educação Física brasileira contemporânea foi possível caracterizar em duas tendências os conceitos dos autores delimitados para este estudo, uma hegemônica e uma contra-hegemônica. Definiu-se por tendência hegemônica aquela que reforça a dominação cultural, ideológica, moral e política da classe dirigente, pensando o lazer em conformismo com o sistema de dominação de uma classe sobre a outra. Identificou-se ser a apropriação teórico-conceitual de Bramante a única que se coloca nesta perspectiva. Por tendências contra-hegêmonicas entendeu-se serem aquelas que, diante desta dominação, vêem no lazer a possibilidade da crítica ao sistema, contribuindo para a construção de sujeitos historicamente ativos e organizados na busca de formas para sair da submissão e prosseguir na construção de uma nova sociedade. Identificou-se que os conceitos apresentados por Marcellino, Bruhns, Mascarenhas e Marcassa se colocam nesta perspectiva, mas com algumas diferenças. Bruhns e Marcellino apresentam as possibilidades transformadoras do lazer numa perspectiva de reforma. Já Marcassa e Mascarenhas, numa perspectiva de revolução, pois apresentam elementos que efetivamente indicam os caminhos para a construção de um novo projeto hegemônico a partir do lazer.