Resumo
Esta tese tem como objetivo refletir sobre o desenvolvimento dos chamados “esportes californianos” e/ou “radicais” no Brasil, tomando como estudo de caso a prática do skate e a analisando através de uma série de revistas publicadas no país entre as décadas de 1970 e início de 1990. Para tanto, partimos da teorização de que o esporte pode ser compreendido como um conjunto de técnicas e discursos de organização da corporeidade, e por isso sendo capaz de conduzir para si as mais diversas formas de experiência corporal (tal perspectiva é trabalhada na tese através da noção de poder esportivo). Buscamos não somente investigar os diferentes modos como o skate foi cooptado pelo universo esportivo, mas também como ele inventou modos de apropriações espaciais e experiências de subjetivação que pouco tiveram a ver com competições, ranking ou rendimentos. A tese que defendemos é que o skate não trilhou os caminhos de uma esportivização que resultasse numa identidade sólida e a qual poderíamos classificar como esportiva. Sua prática constituiu-se numa zona de fronteiras fluídas e ambivalentes, estabelecendo diálogos tanto com o mundo organizado das competições esportivas quanto com importantes movimentos juvenis de contracultura, especialmente com o punk rock. As coibições pelas quais passou em meados da década de 1970, assim como a proibição que enfrentou no ano de 1988, quando o ex-presidente Jânio Quadros fora prefeito da cidade de São Paulo, indicam bem, ao lado da existência de competições organizadas para imensos públicos, e com patrocínio de empresas importantes como o Banco Itaú, os descompassos existentes em sua história recente