Integra

Introdução

Esta pesquisa está sendo desenvolvida pelo grupo de pesquisa em psicologia da UNIABEU, composta por alunos de Educação Física, começa com algumas interrogações. E para poder respondê-las a contento vamos seguir alguns pontos que consideramos fundamentais, como por exemplo, rastrear o conceito de inteligência. Nosso objetivo é inventariar os níveis de desempenho das Múltiplas Inteligências de alunos do primeiro segmento do ensino fundamenta, em um sentido longitudinal. Este tema nos interessa particularmente e está sendo conduzido, também, como trabalho de conclusão de curso dos pesquisadores nele envolvidos. Entendemos o trabalho em Educação Física como uma possibilidade de lidar com o ser humano em diversas vertentes. Consideramos a relação entre a capacidade representacional, o desenvolvimento da estrutura cognitiva e a prática do movimento um tripé essencial no desenvolvimento global e harmônico da criança e, em última instancia, do ser humano e é a partir daí que estamos investindo em um estudo sobre os caminhos da inteligência humana partindo do trabalho com a Educação física.

Desenvolvimento

Nossa primeira questão é o que é inteligência? Essa é uma pergunta que vem intrigando pesquisadores de diversos ramos teóricos já há algum tempo. E através dessas pesquisas, percebe-se que a inteligência não é uma valência humana sólida, única, como afirma Gardner, com sua Teoria das Inteligências Múltiplas (TIM). Na concepção desenvolvida por este autor a inteligência é uma valência que se divide, e cada parte tem suas peculiaridades próprias, que em tempo algum trabalham dissociadas uma das outras. Segundo Piaget "a palavra inteligência, com efeito, é apenas uma palavra coletiva, que designa um número considerável e de mecanismos cuja significação se torna clara sob a condição de explicá-los um a um, seguindo a ordem de seus desenvolvimentos". 1

No estudo das Inteligências Múltiplas (IM) algumas questões se impõem. Inicialmente perguntamos, de que forma podem ser estimuladas? "Partindo do principio de que a cognição humana se constrói a partir da exposição adaptação a estímulos problemáticos diferentes, os assimila e sempre tentando solucioná-los de maneira mais simples, de acordo com as experiências vividas pelo indivíduo". 2 Lembramos Piaget quando diz que "a inteligência é, por definição a adaptação às situações novas e é então uma construção contínua das estruturas". 3 Pressupõe-se que a tentativa de solução de um problema nunca vivenciado, a inteligência supostamente responsável por essa solução, seria solicitada alem de sua capacidade, causando assim um aprimoramento dessa inteligência.

Em relação à idade em que deve ser aplicado esse estímulo sabe-se que o indivíduo pode ser estimulado em qualquer fase da vida, que ele irá obter resultados, mas se faz necessário atentar para as fases desenvolvimento humano, tanto em termos psicológicos quanto fisiológicos. Durante a fase da infância é que ocorre um número maior de conexões neurais, em um tempo bem menor, se comparado com um indivíduo adulto. Supõe-se então que pode ocorrer um aproveitamento maior do estimulo, durante as fases iniciais da vida.

Segundo Gardner (2000)4, a inteligência, é vista em uma seqüência de estágios: todos os indivíduos normais possuem os estágios mais básicos em todas as inteligências, os estágios mais sofisticados dependem de maior trabalho ou aprendizado. Ele dá a essa seqüência uma nomenclatura específica: Habilidade de padrão cru que seria um esboço de competência simbólica observada em bebes. Um segundo estágio seria de simbolizações básicas, para ele, aproximadamente, dos 2 aos 5 anos, as inteligências afloram a partir dos sistemas simbólicos. A criança demonstra habilidade em cada inteligência através da compreensão e uso de símbolos: a música através de sons, a linguagem através de conversas ou histórias, a inteligência espacial através de desenhos etc. Já com o aprimoramento e a compreensão das competências adquiridas no estágio anterior são desenvolvidos os sistemas de segunda ordem, quando a criança reverte essas competências para os domínios valorizados em sua cultura, a escrita, por exemplo. É nesse estágio em que as influencias culturais são mais intensas e interferem de sobremaneira no desenvolvimento individual. Assim, uma cultura que valoriza a música terá um maior número de pessoas que atingirão uma produção musical de alto nível. É na adolescência e na idade adulta que as inteligências se revelam, com mais propriedade, através de ocupações vocacionais ou não-vocacionais. Nesta fase, o indivíduo normalmente desenvolve um foco de interesse, e busca realizações socialmente aceitas em sua cultura. Nesse caso lembramos uma de Freud quando diz que "um ser humano normal é aquele capaz de amar e trabalhar". 5

Pensamos então em nova questão, pode se falar em fator genético da inteligência? Assim como o somatotipo, a cor dos olhos, da pele, a altura etc, o predomínio das inteligências de um indivíduo, também, tem sua porcentagem genética. Por ser um fator genético, hereditário, um indivíduo de primeira geração poderá ou não apresentar as mesmas características intelectuais de seus genitores, devido às combinações de gens, que podem ser recessivos ou dominantes. Esta é uma questão também muito controvertida, porque quando se fala em fator genético, trabalha-se com a dimensão das possibilidades. Portanto de que maneira o genético e o cultural se encontram no desenvolvimento das Inteligências múltiplas do ser humano? Para o momento trazemos então uma última questão. Pode se falar em fator cultural da inteligência? A cultura é a aquisição da característica de uma sociedade que influencia e molda o homem em seus aspectos sociais e na sua subjetividade. Ela influencia não só no modo de viver, mas também na forma de se pensar e de raciocinar.Transmite e gera vários estímulos. Aprimora ou eleva o nível das possibilidades gerais das inteligências dos indivíduos encontrados. Nessa análise, nos fazemos valer da afirmação de Wallon, que dizia: "que o homem é geneticamente social". 6 E da mesma forma escreveu Piaget em sua teoria: "Se tomarmos a noção do social nos diferentes sentidos do termo as tendências hereditárias que nos levam à vida em comum e a imitação, como as relações" "exteriores"(no sentido de Durkheim ) dos indivíduos entre eles, não se pode negar que, desde o nascimento, o desenvolvimento intelectual é, simultaneamente, obra da sociedade e do indivíduo". 6

Muitos esforços têm sido feito no sentido de se conhecer mais sobre a inteligência e seus alcances. Em meio a testes feitos para estabelecer a intensidade de cada inteligência do indivíduo estão as correntes teóricas que, como a de Gardner, afirmam que testes escritos não conseguem estabelecer com o mínimo de fidedignidade, essas configurações. Em contraponto estão outros pesquisadores, como Alfred Binet, que desenvolveu no inicio do século XX o primeiro estudo sobre a inteligência, esse estudo deu origem ao primeiro teste de inteligência desenvolvido por Terman, na universidade de Stanford, Califórnia, o Stanfod-Binet Intelligence Scale. Acreditamos que o monitoramento dos resultados dos estímulos é de suma importância, pois é só assim que o educador terá idéia do caminho a seguir em seu trabalho.

Método e amostra

Para que se faça um monitoramento fidedigno, serão observadas as fases do desenvolvimento do indivíduo, no caso da criança, devido à sua falta de experiência. Pois, como afirma Gardner não é possível, realizar um inventário das IM, através de testagem feitas com papel e caneta, é mais aconselhável que se faça um inventário através da observação de cada indivíduo durante a prática de exercícios que exijam a utilização das valências de cada uma das inteligências. Já com indivíduos que alcançam a puberdade, ou a ultrapassem, se torna um pouco mais simples aplicar o inventário, devido ao acúmulo de experiências, pois a partir daí o indivíduo se torna capacitado a responder um questionário contendo perguntas sobre o seu cotidiano, que estejam de acordo com as exigências de cada cultura, respeitando sempre a faixa etária dos indivíduos inventariados. 7

Essa pesquisa pretende, através de observação durante as práticas das aulas de Educação Física, inventariar os níveis de desempenho das IM dos alunos, de uma maneira progressiva desde o ingresso do aluno na instituição educacional, a fim de direcionar com maior eficácia, os estímulos em todas as fases da evolução do processo de construção cognitiva. A amostra dessa pesquisa será composta inicialmente de 30 (trinta) sujeitos, alunos do Instituto de Educação Santo Antonio (IESA), 1º serie do Ensino Fundamental, no município de Nova Iguaçu - RJ.

O professor tem o papel de observador e avaliador do desempenho de seus alunos. Cada aluno terá um portifólio onde serão inseridos os resultados das avaliações. Essas avaliações serão feitas periodicamente, a cada bimestre, pois é quando academicamente são realizadas as avaliações dos ciclos de aprendizagem. As atividades devem respeitar os estágios de desenvolvimento de cada individuo.

Discussão

Há poucas informações a respeito de instituições educacionais que façam discriminação e desenvolvimento das IM, com isso, acaba por acontecer, um desenvolvimento não sistemático. Ou seja, se os estímulos forem oferecidos de maneira desordenada, pode acarretar no aprimoramento, não atingir com eficácia as inteligências trabalhadas, além de causar o desinteresse do próprio aluno que nos parece ser o panorama encontrado nas escolas em geral. "A estimulação das inteligências durante os primeiros anos de vida se faz necessária dentro da Educação Física escolar, devido a sua interdisciplinaridade, sua correlação com o prazer, e a pré-disposição por parte dos alunos na pratica do mesmo, acredita-se haver melhor assimilação do estimulo por parte do indivíduo, que seria gerado, aplicado, observado e avaliado pelo educador, no caso o professor de Educação Física. Compreendendo o brincar como processo necessário de formação de individualidades e sujeitos". 8

Limitações

Essa pesquisa tem algumas limitações metodológicas, em primeiro lugar a possibilidade de erro de avaliação do professor/avaliador que pode ter sua origem em uma interpretação falha, do desempenho do aluno em sua aula. Mas essa limitação diminuirá ao longo do trabalho do professor, pois o ciclo de avaliação de cada profissional terá a duração de pelo menos um ano, por essa convivência o professor terá uma idéia bem mais clara da real capacidade de seus alunos, tendo assim condições de realizar uma avaliação mais refinada.

Considerações finais

O aprimoramento da capacidade cognitiva do ser humano é sem duvida um desejo da humanidade. Cada indivíduo, a seu modo, é inteligente. Será que a necessidade, ou o sonho de se encontrar ou se produzir um ser dito "perfeito" seja tão importante, a ponto de levar vários pesquisadores a buscar essa perfeição. Essa pesquisa tem como meta à melhora da qualidade de vida e do melhor desempenho do aluno no pleno desenvolvimento de suas inteligências. Durante a produção desse trabalho houve a preocupação com a individualidade, nos questionamos se com esse tipo de aprimoramento nós não estaríamos caminhando para a produção de produtos idênticos, onde todos os indivíduos pensariam da mesma forma, teriam os mesmos gostos ou desejos? Durante a realização do trabalho observamos, principalmente as manifestações da individualidade do aluno. Até o momento podemos dizer que não temos ainda resultados significativos a serem apresentados, porém temos alguns indicativos de que temos um melhor rendimento, nosso caso, observado a partir de uma melhora na pratica das aulas de Educação Física. As instituições educacionais têm como dever, não só transmitir conhecimento, mas também despertar em cada indivíduo o desejo de buscar-lo, de produzir o conhecimento, pois é só assim que o aprimoramento cognitivo, tão almejado, fará sentido.

Os autores, Ronaldo César e Rômulo Pereira cursam licenciatura em educação física na UNIABEU e a professora Márcia Maria Azevedo é coordenadora do Grupo de Pesquisa de Psicologia/UNIABEU e doutoranda em Psicologia/UFRJ)

Referências

  •  Piaget, Jean. Biologia e conhecimento. São Paulo, Vozes, 1973. Maria Clara S. Salgado Gama, Art. A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas implicações para Educação (Piaget p. 53).
  • Gardiner Howard. Estrutura de Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas, 2º reimpressão 2002, Ed. Artmed.
  • Piaget, Jean. Bringuier,. Jean-Claude. Conversando com Jean Piaget. Rio de Janeiro, Difel, 1978. (p.61 )
  • Maria Clara S. Salgado Gama, Art. A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas implicações para Educação, www.homemdemello.com.br/psicologia/intelmult.html, 1998 Trait Tecnologia Ltda.
  • Freud, S. O mal estar na civilização Vol. XIII, 1938. Obras Completas. Edição Standard Brasileira, Rio de Janeiro: Imago.
  • De La Taille, Yves:Piaget; OLIVEIRA, M. Kohl:Vygotsky; DANTAS, Heloysa:Wallon. Teorias Psicogenéticas em Discussão. 16a Edição,1992. Summus Editorial.
  • Gadner, Howard; L. KORNHABER, Mindy; K. WAKE, Warren. Inteligências: Múltiplas Perspectiva, 1º reimpressão 1998, Ed. Artmed, Pág 89 a 97.
  • João Beauclair,Art. Reflexões e Proposições Sobre o Brincar: Múltiplas Idéias, Exercício em Redes de Saberes Contextuais, 1998 - 2004 Psicopedagogia On Line, Publicado em 17/03/2004 12:00:00, Comentários:comentários@psicopedagogia.com.br.
  • Gadner, Howard. Inteligências Múltiplas: A Teoria na Prática, 1º reimpressão 2000, Ed. Artmed.