Resumo

Crianças e adolescentes permanecem sentados por longo período durante as aulas e transportam materiais escolares em mochilas e pastas. A preocupação com a postura corporal adotada pelos alunos durante a execução dessas tarefas escolares é imprescindível para que se encontrem alternativas capazes de lhes proporcionar mais conforto. Baseado na premissa de que a postura pode ser entendida como a forma de a pessoa pensar, sentir e agir corporalmente considerou-se importante avaliá-la de uma maneira mais ampla, considerando diferentes variáveis e suas possíveis inter-relações. É com base nisso que se constitui o objetivo do presente estudo: o de analisar diferentes fatores que possam exercer influência sobre a maneira como sentam em sala de aula e como transportam seu material escolar os escolares da Rede Municipal de Ensino Fundamental de Porto Alegre-RS. Trata-se de um estudo observacional transversal no qual foram avaliadas a postura ortostática nos planos sagital e ântero-posterior, a postura dinâmica na posição sentada para escrever em sala de aula, a adequação do mobiliário escolar à estatura dos escolares, a amplitude de movimento da coluna e das articulações coxo-femural, do joelho e do tornozelo, a dor nas costas em sala de aula e o meio e a forma de transportar o material escolar, bem como o seu peso. A amostra constituiu-se de 430 crianças e adolescentes matriculados em oito escolas municipais e mostrou-se representativa da população estudada. Para o tratamento estatístico das variáveis foi utilizada a análise de frequência, os testes t pareado e não-pareado, a análise de variância e o teste do chi-quadrado. Na posição sentada, observou-se que os participantes, meninos e meninas, de forma semelhante, utilizam pouco os critérios biomecânicos para esta ação e que o posicionamento neutro da pelve foi, entre outros critérios, o menos utilizado. O mobiliário das escolas mostrou-se inadequado para a grande maioria dos participantes. Apesar dessas características da posição sentada, não foi observada associação com dor nas costas em sala de aula, presente em 28,9% dos participantes. Sobre o transporte do material escolar, observou-se que os participantes utilizam majoritariamente a mochila nas costas com apoio sobre os dois ombros para a realização dessa tarefa, não havendo diferença entre meninos e meninas ou entre as faixas etárias. Foi observado também que o peso médio do material escolar foi de 5,46% do peso corporal, sendo que 8,5% dos participantes transportavam mais de 10% do peso corporal. Não foi observada associação da variável transporte do material escolar com a dor nas costas em sala de aula, tampouco houve correlação com os ângulos das curvas da coluna. A característica da postura ortostática dos alunos da Rede Municipal de Ensino apresentou predominância de anteriorização dos pontos anatômicos em relação ao fio de prumo. Observou-se ainda que as médias das amplitudes de movimento da coluna e das articulações coxo-femural e joelho são adequadas para a permanência na posição sentada. Os resultados obtidos apontam para o entendimento de que conhecer as características posturais dos alunos da Rede Municipal de Ensino é imprescindível na formulação de políticas de promoção de saúde, quer seja na inclusão de conteúdos específicos no Plano Político Pedagógico da escola, quer seja na adequada seleção de mesas, cadeiras e livros didáticos. Além disso, devem-se levar em conta as características da cultura local e, nesse sentido, o envolvimento de toda comunidade escolar – professores, direção, serviços, funcionários, pais e familiares – deve ser uma meta a ser atingida, a fim de que os alunos tenham o melhor aproveitamento possível na vida escolar.

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