Resumo

Introdução: Benefícios da prática de atividade física associados à saúde e ao bem-estar, assim como riscos predisponentes ao aparecimento e ao desenvolvimento de disfunções orgânicas, são amplamente apresentados e discutidos na literatura. Apesar da maior quantidade de estudos envolver adultos, não existe dificuldade em selecionar evidências de cunho biológico e psicoemocionais quanto às vantagens dos jovens tornarem-se adequadamente ativos fisicamente. Acompanhamentos longitudinais sugerem que jovens menos ativos fisicamente apresentam maior predisposição para tornarem-se adultos insuficientemente ativos. Objetivo: Identificar o perfil de prática de atividade física de uma amostra epidemiológica de escolares do estado do Paraná, Brasil, e estabelecer sua associação com fatores demográficos, comportamentais e antropométricos. Métodos: Os dados são provenientes do Projeto Paraná Saudável, estudo transversal de base escolar que reuniu 17 mil jovens de 4 a 20 anos matriculados em escolas públicas. Foram realizadas medidas antropométricas e aplicado questionário constituído por 50 itens distribuídos em quatro seções: aspectos demográficos, hábitos alimentares, sono e comportamento sedentário. Para identificar a prática de atividade física recorreu-se ao Physical Activity Questionnaire for Older Children (PAQ-C) e ao Physical Activity Questionnaire for Adolescents (PAQ-A) traduzidos e validados para uso em jovens brasileiros. Acompanhando recomendação internacional foram utilizados escores do PAQ-C e do PAQ-A ≥ 2,75 para classificar os escolares suficientemente ativos. Os dados foram tratados estatisticamente mediante análise bivariada e regressão múltipla hierarquizada. Resultados: Proporção estatisticamente mais elevada de rapazes atenderam as recomendações internacionais (≥ 300 min/semana de intensidade moderada/vigorosa) de prática de atividade física (40,3% [37,1 – 43,6] versus 28,9[26,3-31,7]; p<0,001). Modelo final de regressão múltipla hierarquizada ajustado para demais variáveis de confundimento apontou associação significativa entre inatividade física e idade (moças: OR=1,96[1,54–2,47]; rapazes; (OR=2,20[1,71–2,82]), classe econômica (moças: OR=2,98[2,29–3,74]; rapazes (OR=2,55[1,84–3,38]), escolaridade materna (moças: OR=2,01[1,53–2,56]; rapazes: 2,08[1,58 – 2,67]) e urbanização (moças: OR=3,03[2,49–3,83]; rapazes: OR=2,91[2,35 – 3,68]). Entre os fatores comportamentais, consumo de frutas/hortaliças (moças: OR=1,34[1,09–1,67]; rapazes: OR=1,42[1,14–1,79]) e consumo de produtos açucarados/refrigerantes (moças: OR=1,29[1,02–1,70]; rapazes: OR=1,35[1,06–1,74]) permaneceram associados à inatividade física. Da mesma forma, os fatores antropométricos relacionados aos indicadores do estado nutricional – índice de massa corporal (moças: OR=2,06[1,51–2,74]; rapazes: OR=1,93[1,41–2,51]) e do acumulo de gordura abdominal – relação cintura/estatura (moças: OR=2,19[1,63–2,85]; rapazes: OR=2,08[1,51–2,73]) se associaram significativamente à inatividade física. Conclusão: Com o aumento da idade, da classe econômica, do nível de escolarização materna e da quantidade de habitantes da cidade que reside diminuíram de forma significativa as chances de atender as recomendações internacionais de prática atividade física. Aqueles que se mostraram mais ativos fisicamente relataram se alimentar de maneira mais saudável e tenderam a apresentar menor acumulo de peso e gordura corporal. Os achados sugerem que os escolares selecionados no estudo não estão sendo estimulados de maneira adequada para prática de atividade física que venha repercutir favoravelmente na saúde.

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