Prática de atividade física no lazer e deficiência referida: um estudo de base populacional na cidade de São Paulo
Por Tatiane Kosimenko Ferrari Figueiredo (Autor), Katia Cristina Bassichetto (Autor), Shamyr Sulyvan de Castro (Autor), Edige Felipe de Sousa Santos (Autor), Moisés Goldbaum (Autor), Chester Luiz Galvão Cesar (Autor).
Resumo
A prática de atividade física no tempo livre é fundamental para promover a saúde e prevenir doenças crónicas não transmissíveis. Contudo, seu acesso é desigual, sendo especialmente limitado entre pessoas com deficiência. Compreender essas desigualdades e seus fatores associados é essencial para garantir equidade em saúde.
OBJETIVO: Descrever e comparar a prática de atividade física no lazer em pessoas com e sem deficiências referidas, mensurando a magnitude das desigualdades e fatores associados, de acordo com variáveis sociodemográficas.
MÉTODOS: Foram utilizados dados do ISA-Capital 2015, estudo transversal de base populacional, com amostra representativa da população com 12 anos ou mais, residente na cidade de São Paulo. Os incluídos foram classificados: sem deficiência ou com deficiência visual, auditiva ou física. Atividade física no lazer foi avaliada pelo IPAQ longo, classificando como ativos no lazer aqueles que cumpriram a recomendação de 420 min/sem entre 12 e 17 anos e 150 minutos/semana para 18 anos ou mais. Modelos de regressão de Poisson foram utilizados, com ajuste para todas as variáveis entre si, para estimar as razões de prevalência e seus IC95%.
RESULTADOS: Comparando as prevalências de pessoas fisicamente ativas sem deficiências (22,4%) e com deficiências, não foram encontradas diferenças significativas para a deficiência visual (17,8%) e auditiva (20,3%). A prevalência naqueles com deficiência física foi 40% menor do que naquelas sem deficiência no total (10,9%), 60% menor entre as mais velhas (5,9%) e 50% menor no sexo masculino (9,8%).
CONCLUSÃO: A prevalência de ativos no lazer foi baixa e semelhante entre pessoas sem deficiência e com deficiência visual e auditiva, com associações e desigualdades semelhantes em relação ao sexo e à escolaridade. As desigualdades são acentuadas naquelas com deficiência física, destacando a necessidade de políticas públicas para reduzir barreiras e promover equidade.
REFERÊNCIAS
ALVES, M. C. G. P.; ESCUDER, M. M. L.; GOLDBAUM, M.; BARROS, M. B. A.; FISBERG, R. M.; CESAR, C. L. G. Plano de amostragem em inquéritos de saúde. Revista de Saúde Pública, v. 52, p. 81, 2018. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003441
ANDERLE, P.; ZIEGELMANN, P.; DE GOULART, B. Association between impairment and self-rated health: a brazilian population study considering type, origin, and degree of limitation. BMC Public Health, v. 23, n. 480, 2023. https://doi.org/10.1186/s12889-023-15445-w
ANDERSEN, L. B.; SCHNOHR, P.; SCHROLL, M.; HEIN, H. O. All-cause mortality associated with physical activity. Archives of Internal Medicine, v. 160, n. 11, p. 1621-8, 2000. https://doi.org/10.1001/archinte.160.11.1621
BLOEMEN, M. A. T.; BACKX, F. J. G.; TAKKEN, T.; WITTINK, H.; BENNER, J.; MOLLEMA, J.; DE GROOT, J. Factors associated with physical activity in children and adolescents with physical disability: a systematic review. Developmental Medicine & Child Neurology, v. 57, n. 2, p. 137-48, 2015. https://doi.org/10.1111/dmcn.12624
BOUSCAREN, N.; YILDIZ, H.; YILDIZ, H.; DARTOIS, L.; VERCAMBRE, M.; BOUTRON-RUAULT, M. Decline in instrumental activities of daily living over 4-year: The association with hearing, visual and dual sensory impairments among non-institutionalized women. The Journal of Nutrition, Health & Aging, v. 23, n. 8, p. 687-93, 2019. https://doi.org/10.1007/s12603-019-1231-9
BRASIL. Decreto n°. 11.793, de 23 de novembro de 2023. Institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Novo Viver sem Limite. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/d11793.htm Acessado em: 16/01/2025.
BRASIL. Lei n°. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm Acessado em: 15/01/2025.
CARROLL, D. D.; COURTNEY-LONG, E. A.; STEVENS, A. C.; SLOAN, M. L.; LULLO, C.; VISSER, S. N.; FOX, M. H.; ARMOUR, B. S.; CAMPBELL, V. A.; BROWN, D. R.; DORN, J. M. Vital signs: disability and physical activity - United States, 2009–2012. Morbidity and Mortality Weekly Report, v. 63, n. 18, p. 407-13, 2014. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC5779402/ Acessado em: 16/01/2025.
CASTRO, S. S.; CÉSAR, C. L. G.; CARANDINA, L.; BARROS, M. B. A.; ALVES, M. C. G. P.; GOLDBAUM, M. Deficiência visual, auditiva e física: prevalência e fatores associados. Cadernos de Saúde Pública, v. 24, p. 1773-82, 2008. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2008000800006
CLINA, J.; SAYER, R.; FRIEDMAN, J.; CHUI, T.; MEHTA, T.; RIMMER, J.; HILL, J. Reliability and validity of the international physical activity questionnaire adapted to include adults with physical disability. Journal of Physical Activity & Health, v. 21, n. 2, p. 1-8, 2023. https://doi.org/10.1123/jpah.2023-0504
CRUZ, M. S.; BERNAL, R. T. I.; CLARO, R. M. Trends in leisure-time physical activity in Brazilian adults. Cadernos de Saúde Pública, v. 34, n. 10, e00114817, 2018. https://doi.org/10.1590/0102-311X00114817
DE HOLLANDER, E. L.; PROPER, K. I. Physical activity levels of adults with various physical disabilities. Preventive Medicine Reports, v. 10, p. 370-6, 2018. https://doi.org/10.1016/j.pmedr.2018.04.017
DE WINTER, C. F.; BASTIAANSE, L. P.; HILGENKAMP, T. I. M.; EVENHUIS, H. M.; ECHTELD, M. A. Cardiovascular risk factors in older people with intellectual disability: results of the HA-ID study. Research in Developmental Disabilities, v. 33, n. 6, p. 1722-31, 2012. https://doi.org/10.1016/j.ridd.2012.04.010
FERRARI, G.; REZENDE, L. F. M.; WAGNER, G. A.; FLORINDO, A. A.; PERES, M. F. T. Physical activity patterns in adolescents from São Paulo. BMJ Open, v. 10, n. 9, e037290, 2020. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-037290
FIGUEIREDO, T. K. F.; AGUIAR, R. G.; FLORINDO, A. A.; ALVES, M. C. G. P.; BARROS, M. B. A.; GOLDBAUM, M. Changes in total physical activity, leisure and commuting. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 24, e210030, 2021. https://doi.org/10.1590/1980-549720210030
FLORINDO, A. A.; GUIMARÃES, V. V.; CESAR, C. L. G.; BARROS, M. B. A.; ALVES, M. C. G. P.; GOLDBAUM, M. Epidemiology of leisure, transportation, occupational, and household physical activity: prevalence and associated factors. Journal of Physical Activity and Health, v. 6, n. 5, p. 625-32, 2009. https://doi.org/10.1123/jpah.6.5.625
GINIS, K. A. M.; VAN DER PLOEG, H. P.; FOSTER, C.; LAI, B.; MCBRIDE, C. B.; NG, K.; PRATT, M.; SHIRAZIPOUR, C. H.; SMITH, B.; VÁSQUEZ, P. M.; HEATH, G. W. Participation of people living with desabilities in physical activity: a global perspective. The Lancet, v. 398, n. 10298, p. 443-55, 2021. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01164-8
HALLAL, P. C.; GOMEZ, L. F.; PARRA, D. C.; LOBELO, F.; MOSQUERA, J.; FLORINDO, A. A. REIS, R. S.; PRATT, M.; SARMIENTO, O. Lessons learned after 10 years of IPAQ use in Brazil and Colombia. Journal of Physical Activity and Health, v. 7, Supl. 2, S259–S264, 2010. https://doi.org/10.1123/jpah.7.s2.s259
HASSETT, L.; SHIELDS, N.; COLE, J.; OWEN, K.; SHERRINGTON, C. Comparisons of leisure-time physical activity participation by adults with and without a disability: results of an Australian cross-sectional national survey. BMJ Open Sport & Exercise Medicine, v. 7, n. 1, e000991, 2021. https://doi.org/10.1136/bmjsem-2020-000991 Acessado em: 16/01/2025.
HSIEH, K.; HILGENKAMP, T. I. M.; MURTHY, S.; HELLER, T.; RIMMER, J. H. Low levels of physical activity and sedentary behavior in adults with intellectual disabilities. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 14, n. 12, p. 1503, 2017. https://doi.org/10.3390/ijerph14121503
HU, G.; TUOMILEHTO, J.; BORODULIN, K.; JOUSILAHTI, P. The joint associations of occupational, commuting, and leisure-time physical activity, and the Framingham risk score on the 10-year risk of coronary heart disease. European Heart Journal, v. 28, n. 4, p. 492-8, 2007. https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehl475
IBGE. Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística. Releitura dos dados de pessoas com deficiência no Censo Demográfico 2010 à luz das recomendações do Grupo de Washington. Rio de Janeiro: IBGE; 2010. Disponível em: https://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/metodologia/notas_tecnicas/nota_tecnica_2018_01_censo2010.pdf Acessado em: 20/03/2025.
JUN, M. G.; HAN, S. H. The relationship between physical activity and health-related quality of life in Korean adults: The Eighth Korea National Health and Nutrition Examination Survey. Healthcare (Basel), v. 11, n. 21, p. 2861, 2023. https://doi.org/10.3390/healthcare11212861
KATZMARZYK, P. T.; FRIEDENREICH, C.; SHIROMA, E. J.; LEE, I. M. Physical inactivity and non-communicable disease burden. British Journal of Sports Medicine, v. 56, n. 2, p. 101-6, 2022. https://doi.org/10.1136/bjsports-2020-103640
LI, R.; SIT, C. H. P.; YU, J. J.; DUAN, J. Z. J.; FAN, T. C. M.; MCKENZIE, T. L.; WONG, S. H. S. Correlates of physical activity in children and adolescents with physical disabilities: a systematic review. Preventive Medicine, v. 89, p. 184-93, 2016. https://doi.org/10.1016/j.ypmed.2016.05.029
LIM, S. S.; VOS, T.; FLAXMAN, A. D.; DANAEI, G.; SHIBUYA, K.; ADAIR-ROHANI, H.; SHAHRAZ, S.; MURRAY, C. J. L. A comparative risk assessment of burden of disease and injury attributable to 67 risk factors and risk factor clusters in 21 regions, 1990–2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010. The Lancet, v. 380, n. 9859, p. 2224-60, 2012. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(12)61766-8/abstract Acessado em: 16/01/2025.
MARTIN GINIS, K. A.; VAN DER PLOEG, H. P.; FOSTER, C.; LAI, B.; MCBRIDE, C. B.; NG, K. PRATT M.; SHIRAZIPOUR, C. H.; SMITH, B.; VÁSQUEZ, P. M.; HEATH, G. W. Participation of people with disabilities in physical activity: a global perspective. The Lancet, v. 398, n. 10298, p. 443-55, 2021. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01164-8
MELVILLE, C. A.; OPPEWAL, A.; SCHÄFER ELINDER, L.; FREIBERGER, E.; GUERRA-BALIC, M.; HILGENKAMP, T. I. M.; EINARSSON, I.; IZQUIERDO-GÓMEZ, R. H.; SANSANO-NADAL, O.; RINTALA, P.; CUESTA-VARGAS, A.; GINÉ-GARRIGA, M. Definitions, measurement and prevalence of sedentary behaviour in adults with intellectual disabilities - A systematic review. Preventive Medicine, v. 97, p. 62-71, 2017. https://doi.org/10.1016/j.ypmed.2016.12.052