Resumo
Apesar dos efeitos positivos da prática de exercícios físicos na aptidão física e saúde para a população com lesão medular (LM), não existe um consenso sobre sua prescrição. Dessa forma, tendo em vista a relevância do tema, este estudo teve como objetivo geral analisar a interferência de um programa de exercícios físicos na aptidão física e no perfil lipídico e glicêmico de adultos com LM. Em uma primeira fase foi realizada uma pesquisa descritiva, do tipo transversal e com abordagem qualitativa, com cinco profissionais de saúde, utilizando-se de entrevista com o intuito de explorar o estímulo por partes destes profissionais para a prática de atividade física às pessoas com LM. Optou-se pela análise de conteúdo das entrevistas, utilizando-se a técnica de análise categorial. As categorias de análise foram: fluxo de atendimento no sistema de saúde das pessoas com LM e estímulo para a prática de AF por profissionais da saúde em pacientes com LM. Em seguida foi realizada pesquisa quase-experimental, com a participação de homens adultos com LM, selecionados por conveniência, divididos em grupo controle - GC (n=9) e grupo experimental - GE (n=10). O programa de exercícios físicos envolveu 20 minutos de treinamento aeróbico contínuo de intensidade moderada, entre 50 a 70% da FCreserva, em um ergômetro para cadeira de rodas, utilizando sua própria cadeira de rodas. Na sequência foi realizado treino de resistência muscular para os grandes grupos musculares dos membros superiores e tronco. Para a avaliação da aptidão física foi verificada a capacidade cardiorrespiratória por meio do teste de campo TCM-8, a composição corporal pelo DXA, e o perfil glicêmico e lipídico por coleta sanguínea, medidos antes e após a intervenção. Como principais resultados observou-se que no fluxo de atendimento das pessoas com LM no SUS as maiores limitações estão na atenção básica, e o estímulo para a prática de atividade física pelos profissionais de saúde para as pessoas com LM ainda é restrito. Para verificar a efetividade da interferência do programa de exercícios físicos um modelo de equações de estimativas generalizadas (GEE) foi usado para determinar as alterações significantes em função do grupo (GE e GC) e momento (pré e pós). Foram vistas melhoras para a capacidade cardiorrespiratória no VO2pico e para a composição corporal na porcentagem (%) de massa magra e de gorda dos braços no GE. Foi verificado um efeito positivo trivial (d=0,188) na % da massa gorda e magra total e segmentar, indicando leve redução da massa gorda e aumento da massa magra geral. Em relação ao perfil lipídico e glicêmico a amostra estava dentro da normalidade e provavelmente devido a isso não ocorreu mudança com o treinamento aplicado. Assim, conclui-se que o programa de exercícios físicos aplicado com o ergômetro de cadeira de rodas foi seguro e e capaz de melhorar a capacidade cardiorrespiratória e a composição corporal em homens paraplégicos sedentários com LM, o que reforça a importância da busca de protocolos de exercícios físicos com equipamentos exequíveis para sua realização.